Título: Zelaya prepara boicote à eleição
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 13/10/2009, Mundo, p. 23

Presidente deposto ameaça radicalizar caso o governo interino se recuse a discutir demanda

Depois do feriado, recomeça o diálogo entre os representantes do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e do líder interino, Roberto Micheletti. O ponto principal do Acordo de San José ¿ a restituição de Zelaya ao poder ¿ será discutido ainda hoje. No entanto, da parte do presidente deposto, o clima é de pessimismo e de agravamento da crise política. ¿Considero que o que vai acontecer é que o regime golpista vai continuar se negando a acatar a resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da comunidade internacional¿, declarou Zelaya ontem. ¿Vai ser uma bofetada contra a comunidade internacional caso se negarem a restituir o que usurparam¿, completou.

Diante deste cenário, o presidente deposto e seus partidários já começam a preparar o boicote às eleições marcadas para 29 de novembro e mesmo um confronto armado para quinta-feira, caso ele não seja reencaminhado à presidência. ¿Companheiros, lembrem-se de que, se não há restituição, não há eleições, não permitiremos aos políticos que cheguem aos bairros e às nossas colônias para colar cartazes e fazer propaganda política¿, disse no domingo o líder sindicalista Juan Barahona, um dos principais representantes de Zelaya na mesa de diálogo organizada pela OEA. ¿Não vamos votar, é um boicote geral, porque não podemos vender a luta do povo por uns poucos centavos dos corruptos políticos. Então, onde estão nossos mártires? O povo não é traidor! Até a vitória final, companheiros!¿, gritou aos seguidores.

As declarações incitando à violência podem colocar o diálogo em risco. Barahona anunciou que, se até 15 de outubro não houver acordo, ¿as conversas serão paralisadas e a resistência continuará brigando nas ruas, e também pela Constituinte, que é irrenunciável, é nosso direito¿. Também o sindicalista Rafael Alegría, secretário internacional de operações da Via Campesina, afirmou em comícios: ¿A partir de 15 de outubro, agarrem esses safados!¿. Ele também prometeu convocar a ¿desobediência civil¿ e ¿desconhecer as eleições¿ de 29 de novembro.

Caso o diálogo não lhe permita recuperar o cargo, Zelaya ameaçou continuar ¿lutando nas ruas¿ e alertou que ¿isso vai aprofundar a crise¿. O presidente deposto segue abrigado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Na semana passada, policiais do governo interino apontaram armas de longo alcance para o interior da representação brasileira, assuntando os ¿hóspedes¿.

Otimismo Por outro lado, representantes da OEA e do governo interino mantêm expectativas otimistas para o diálogo de hoje. ¿Avançamos muito nos temas a serem tratados. Por isso, terça-feira (hoje) pode haver notícias otimistas¿, disse ontem o assessor chileno da OEA, John Biehl. A representante de Micheletti, Vilma Morales, também afirmou ontem que já houve um avanço de 60% no diálogo. ¿As duas partes concordam com a maioria dos 12 pontos do Acordo de San José, particularmente no que se refere a formar um governo de unidade e reconciliação nacional, criar comissões de verdade e de verificação dos compromissos adquiridos e ao restabelecimento imediato de Honduras com a comunidade internacional¿, disse Vilma.

Os partidários de Micheletti defendem as eleições como saída para a crise política. Zelaya, entretanto, considera que a organização deste sufrágio é um subterfúgio para não discutirem sua volta ao poder.

Vai ser uma bofetada contra a comunidade internacional caso se negarem a restituir o que usurparam¿