Título: Falta debate sobre futuro sem petróleo
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 06/12/2012, Economia, p. 35

Quando a presidente Dilma Rousseff vetou o artigo do projeto de lei que reduziria drasticamente o repasse dos royalties do petróleo aos estados produtores, houve alívio no Rio e no Espírito Santo. Recursos relativos aos contratos já assinados, que superam R$ 100 bilhões nos próximos 20 anos, estão assegurados - se o Congresso não derrubar o veto. Passado o susto, e diante da pressão dos estados não produtores, é hora de pensar em como viver sem royalties. Afinal, projeta-se que as reservas de petróleo no mundo sequem em quatro ou cinco décadas.

Na tentativa de explicar por que o debate sobre um futuro sem royalties ficou fora de pauta, especialistas apontam as fragilidades da economia fluminense e os efeitos da crise financeira global. Professor de Economia da PUC-Rio e presidente da Câmara de Desenvolvimento Sustentável da prefeitura do Rio, Sérgio Besserman chama a atenção para o perigo de políticas imediatistas.

- Petróleo é o passado, e o futuro é a economia de baixo carbono. Não é uma opinião só de ecologistas, qualquer conselho de empresa sabe disso. E o dinheiro dos royalties deveria ser usado para preparar a transição rumo à economia do futuro. Não estamos falando de ficção, mas de 2030. No mundo político, é difícil haver visão estratégica. Eles se elegem pensando em até oito anos de governo, precisamos pensar daqui a 20, 30 anos.

Em 2011, o dinheiro de royalties e participações especiais representou 17% da receita líquida do Estado do Rio, segundo a Secretaria de Planejamento. O Rio está atrasado na busca de uma economia mais diversificada, diz o coordenador do curso de Economia da UFF, Leonardo Muls:

- São Paulo planejou sua interiorização desde 1930, Minas fez o mesmo na década de 1970, mas o Estado do Rio jamais planejou seu desenvolvimento de longo prazo. O Rio teve vocação industrial para a produção de bens de consumo não duráveis, como alimentos, bebidas e vestuário. Temos que voltar a essa tradição. Outra grande vocação é a atividade portuária.

"infraestrutura ruim e porca"

A crise global também retarda a busca de alternativas.

- Temos uma infraestrutura muito ruim e porca. Temos boa chance de torná-la mais produtiva e limpa. Temos os recursos dos royalties para isso - diz Besserman.

Para o professor da UFRJ Mauro Osorio, o Rio perde a oportunidade de ter uma indústria mais densa:

- Devemos atrair para o Rio a estrutura de projeto de engenharia para a economia que gira em torno do petróleo. Hoje quase todos os equipamentos vêm de fora do estado

Procurada, a Secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico disse que só o governador pode se pronunciar sobre royalties.