Título: Planalto orientou Adams a se desvincular de Weber
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: O Globo, 06/12/2012, País, p. 3

Antes de depor ontem no Senado, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, recebeu um recado do Palácio do Planalto: ele deveria começar a se desvincular de seu ex-adjunto José Weber Holanda Alves, indiciado pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, para que sua permanência no governo não fosse questionada. No fim do dia, a avaliação no Palácio foi a de que Adams se saiu bem no depoimento, e cumpriu o combinado.

Adams foi avisado por diversos emissários da presidente Dilma de que exagerou na dose ao defender Weber, publicamente, em duas ocasiões distintas. Na primeira vez, logo após a operação da PF, Adams destacou que era amigo de Weber há cerca de dez anos e que, inclusive, frequentava sua casa. "A pessoa que conhece o ser humano Weber acredita que ele vai esclarecer tudo", disse, na ocasião.

Em um segundo momento, ele defendeu a capacidade do ex-braço-direito e voltou a afirmar que Weber iria esclarecer os fatos. Após as declarações de Adams, os recados do governo foram claros: se ontem, no Senado, repetisse a dose, sua situação se complicaria.

Na tentativa de se manter no cargo, o advogado-geral da União subiu o tom contra Weber, apontou uma "relação promíscua" nos casos que envolveram a AGU na Operação Porto Seguro, e disse desconhecer procedimentos administrativos disciplinares abertos contra o ex-auxiliar na Controladoria-Geral da União (CGU).

Segundo interlocutores de Dilma, Adams não deu aos senadores nenhuma demonstração de proximidade com o ex-adjunto, e tratou a questão de forma técnica, amparado por soluções práticas, como a regra de que as indicações para os cargos de confiança terão de passar por parecer da corregedoria da AGU. Agradou especialmente o fato dele ter usado a expressão "relações promíscuas" para se referir aos envolvidos.

A PF indiciou Weber, ex-advogado-geral adjunto, por corrupção passiva num suposto favorecimento dos interesses do ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) na ocupação de ilhas da União no litoral paulista. Adams teve de explicar por que indiciou Weber para uma função estratégica e por que deu poderes a ele.

- Em relação aos casos apontados pela PF, quando se verificou a ocorrência desse relacionamento promíscuo entre agentes públicos, suspendemos os atos (da AGU) - disse Adams na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Adams foi pouco cobrado pelos senadores presentes, mas não escapou de protestos de advogados da União e outros servidores do órgão presentes no plenário da CCJ. Quando começou a fazer sua primeira intervenção, foi interrompido por um apitaço de servidores, e por um pedido para que se demitisse do cargo. Alguns senadores, como Pedro Simon (PMDB-RS), também citaram a "situação delicada" de Adams por ter bancado um auxiliar acusado de envolvimento no comércio de pareceres jurídicos.

- Fora, fora, fora - gritavam servidores da AGU, que colocaram narizes de palhaço para fazer o curto protesto.

O presidente da CCJ, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), repreendeu os servidores, que permaneceram em silêncio durante todo o depoimento de Adams. Eles só voltaram a fazer um discreto protesto quando o advogado-geral da União disse desconhecer os procedimentos disciplinares em curso na CGU. Assessores da presidente Dilma afirmaram que a falta de apoio por parte dos servidores tem um forte impacto negativo para Adams.