Título: Em empresas de fachada no Rio, o núcleo financeiro da quadrilha
Autor: Werneck, Antônio; Lima, Samuel
Fonte: O Globo, 06/12/2012, País, p. 11

Integrantes do grupo negociavam até uma tonelada de esmeraldas por mês

Coordenador da parte final da operação, o delegado Amaro José Guimarães, de Juazeiro, revelou que a quadrilha negociava até uma tonelada de esmeraldas por mês. Duas empresas de fachadas sediadas no Rio eram as responsáveis pelo núcleo financeiro da quadrilha, que contava com uma rede operacional para recepcionar indianos interessados em contrabandear esmeraldas. Os cariocas recebiam os indianos no Aeroporto Internacional Tom Jobim, providenciando toda espécie de mimo: desde hospedagens em hotéis de luxo na Zona Sul carioca até tradutores.

Do Rio, os indianos viajavam para Salvador e de lá para Campo Formoso, sempre acompanhados de tradutores e dos cariocas. Eram levados para os pontos de extração de pedras preciosas, escolhiam os melhores lotes e lacravam tudo. Os pacotes eram transportados então para o Rio - com uso de notas frias - e embarcados para a Índia, em aviões ou navios.

- Não havia dinheiro nessa etapa. Os indianos assinavam vales com os valores que iriam pagar pelas pedras. Depois voltavam para Índia e ficavam aguardando as pedras chegarem. As empresas do Rio providenciam o envio, correndo todos os riscos. Só então os pagamentos eram efetuados por meios de transferências bancárias - contou Amaro.

A empresa controlada pelo casal preso em Ipanema e uma outra, cujo dono também foi preso na Zona Sul do Rio, contavam com sofisticado esquema para receber o dinheiro. Eram usadas contas abertas em nomes de laranjas e uma rede de doleiros, que cobravam percentuais pelas operações financeiras. As negociações eram tratadas por e-mails, que os policiais precisaram muitas vezes traduzir.

- Desmontamos toda cadeia de operacional do Rio e também chegamos aos responsáveis na ponta, no interior da Bahia - afirmou o delegado.

Segundo as investigações da PF, que consumiram mais de um ano, a quadrilha foi identificada a partir de um detalhe: a Cooperativa Mineral da Bahia, única empresa autorizada para extrair pedras preciosas e semipreciosas em Campo Formoso, não teria apresentado produção significativa nos anos de 2011 e 2012. O balanço negativo despertou suspeitas e, com auxílio de auditores da Receita Federal da Bahia e do Rio, o trabalho começou. De acordo com a PF, embora não tivesse apresentado produção, as pedras continuavam sendo negociadas em praça pública no interior da Bahia.