Título: Economistas temem risco para inflação
Autor: Rodrigues, Lino; Hadar, Daniel
Fonte: O Globo, 24/11/2012, Economia, p. 38

Economistas reunidos ontem em seminário promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), em Botafogo, no Rio, manifestaram preocupação sobre os efeitos do câmbio desvalorizado na inflação brasileira do próximo ano.

Segundo Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, o real desvalorizado já teria impedido que o país registrasse uma inflação menor em 2012.

- O câmbio é uma variável importante na inflação. Estamos prevendo o câmbio a R$ 2 em 2013, com inflação de 5,7%. Mas se o câmbio continuar se desvalorizando, pode ser uma variável problemática - avalia Silvia.

O economista Affonso Pastore, ex-presidente do Banco Central (BC), disse que o câmbio foi transformado em instrumento de política econômica e criticou o fato de o governo não reconhecer abertamente essa mudança.

- Tínhamos antes a flutuação suja, com intervenções do Banco Central, mas tínhamos flutuação. O governo não quer confirmar que mudou a política cambial e não está claro ainda porque não reconhece isso - disse Pastore, durante seminário da FGV.

Segundo ele, a desvalorização do câmbio também tem sido ajudada por menores fluxos de capitais ao Brasil.

- Uma hora esse fluxo vai voltar e o governo vai ter que deixar o real valorizar ou intervir ainda mais. Vai ter que adotar mais medidas de controle de capitais, como na renda variável.

Para Pastore, essa intervenção vi a câmbio é uma tentativa de ajudar a indústria a melhorar seus resultados.

- O emprego está num patamar alto, há pleno emprego e existe uma pressão salarial elevada. E existe correlação entre o salário e o custo da produção, o que estreitou margens de lucro da indústria - disse Pastore.

Samuel Pessôa, economista do Ibre, avaliou que uma possível aceleração da inflação, provocada pelo dólar valorizado, tenderia a corroer o salário dos trabalhadores. Por isso, ele acredita que o governo pode mudar sua política se isso começar a afetar a popularidade da presidente Dilma Rousseff.

- Uma hora ela pode jogar a toalha do câmbio - disse Pessôa.

Depois de um crescimento um pouco melhor no terceiro trimestre, estimado em 1% na comparação ao três meses anteriores, a economia brasileira deve voltar a desacelerar no fim do ano, para 0,75%, segundo projeções do Ibre. O Produto Interno Bruto (PIB) deve encerrar o ano com alta de 1,3%. Para 2013, o crescimento será de 3,2%