Título: BC intervém para segurar o dólar e moeda fecha a R$ 2,082
Autor: Rodrigues, Lino; Hadar, Daniel
Fonte: O Globo, 24/11/2012, Economia, p. 38

O dia foi de muito nervosismo no mercado de câmbio. A moeda americana abriu em alta de 0,48%, a R$ 2,108. Mais tarde, após a fala do ministro da Fazenda, Guido Mantega, garantindo que o câmbio estava em patamar razoável e que "o dólar acima de R$ 2 veio para ficar", a cotação subiu ainda mais. A moeda chegou a subir 0,95% na máxima do dia, a R$ 2,118. O mercado interpretava que as declarações do ministro indicavam interesse do governo em desvalorizar mais o real.

O Banco Central foi obrigado a intervir para conter a valorização do dólar ante o real. A intervenção ocorreu entre 11h45m e 11h55m, com um leilão de swap cambial - operação que equivale à venda de dólares no mercado futuro. Foram vendidos 32.500 contratos, que equivalem a uma injeção de US$ 1,625 bilhão. Depois disso, a moeda americana entrou em queda e, no fim do dia, registrava baixa de 0,76%, a R$ 2,082 para venda, o maior recuo desde 31 de agosto deste ano.

TETO MAIS PERTO DE r$ 2,10

O mercado considerava que R$ 2,10 era uma espécie de teto informal para o dólar, considerando o histórico de atuação do Banco Central. Operadores avaliam que o interesse do governo é manter a moeda mais próxima de R$ 2,10 do que de R$ 2. Desde 15 de maio de 2009, quando atingira R$ 2,110, a moeda americana não encerra o pregão acima de R$ 2,10.

- Na semana que vem o dólar pode romper R$ 2,10 com notícias da Europa e dezembro é historicamente um mês de muita saída de dividendos do país, o que favorece a valorização da moeda americana. Agora devem controlar o dólar entre R$ 2,10 e R$ 2,15. O governo já sinaliza que quer a moeda mais próxima de R$ 2,10 do que de R$ 2 - diz Ítalo Abucater, gerente de câmbio da corretora Icap Brasil.

Segundo o ministro Mantega, 2012 será o ano da "desintoxicação" dos juros altos e do câmbio baixo e a atual política cambial do governo, em que o real flutua em relação ao dólar, tem agradado aos empresários. Embora admita que o valor do dólar ainda não seja satisfatório, acredita que uma melhora do cenário externo irá mostrar a eficiência desse novo patamar do câmbio.

- Já estamos há quatro ou cinco meses com o câmbio acima de R$ 2, o que mostra que esse valor veio para ficar - disse o ministro, em palestra no Fórum Nacional da Indústria, em São Paulo.

No evento, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e que reuniu representantes de todos os segmentos industriais, Mantega reiterou que a inflação está sob controle, o que abre a possibilidade para o BC continuar com uma política monetária mais expansionista, diante de uma situação internacional que não deve ter grandes melhoras em 2013.

Segundo ele, o governo está implementando uma "nova matriz macroeconômica, onde o controle da inflação se dá por meio de juros mais baixos e câmbio mais valorizado". Ponderou, no entanto, que essa "nova matriz" demora de seis a nove meses para ser implementada e começar a dar resultados.

Apesar da situação externa difícil, o ministro disse que a economia brasileira já está dando sinais de recuperação no segundo semestre. Nesse terceiro trimestre do ano, ele acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer 1,2%, e no quarto, 1,1%.

Com isso, ele espera que a economia comece o ano de 2013 com crescimento de 1,7%. A percepção, segundo ele, é de que economia vive um processo gradual de crescimento, com melhora nos indicadores de confiança do consumidor e dos empresários e do aumento na oferta e na demanda de crédito.