Título: Relatório: PSDB desqualifica, PT rebate
Autor: Krakovics, Fernanda
Fonte: O Globo, 24/11/2012, País, p. 6

Petistas e tucanos bateram boca ontem, por meio de uma guerra de notas, sobre o relatório final da CPI do Cachoeira, que ainda está pendente de votação. O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), afirmou que o PT usou o documento para fazer um contraponto ao julgamento do mensalão, e que o partido blindou o governo federal de investigações sobre os contratos da construtora Delta. Já o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP), disse que não há "revanchismo, perseguição ou espírito de vingança" ao rebater as críticas ao relatório feitas pelo governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que teve seu indiciamento pedido pelo relator da comissão parlamentar de inquérito, deputado Odair Cunha (PT-MG).

No dia anterior, o governo de Goiás havia divulgado uma nota desqualificando o relatório, que classificou como "covarde, malfeito e inconsistente". Afirmava também que o relator não conseguiu demonstrar conexão entre Perillo e o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

"O que vimos no relatório covarde, parcial e direcionado, elaborado como instrumento de vingança contra desafetos do líder maior oculto do mensalão, foi uma tentativa de, através de fragmentos de gravações, montar uma peça frágil, inconsistente, sem o mínimo de embasamento técnico ou de provas para incriminar e desgastar politicamente adversários dos mensaleiros", diz a nota do governo goiano.

Em resposta, o líder do PT afirmou, também por meio de nota, que as manifestações de Perillo são "uma tentativa desesperada de salvar seu mandato e seu governo". E sustenta que a organização de Cachoeira estaria incrustada no governo de Goiás:

"Não há revanchismo, perseguição ou espírito de vingança por parte do relator. O relatório final da CPMI retrata uma situação que já se mostrava pública. Caberá agora ao governador explicar à sociedade brasileira o motivo que levou seu governo ser partilhado e, em grande parte, conduzido efetivamente pelo chefe de uma das maiores organizações criminosas já estruturadas no país", diz a nota.

Em defesa do governador tucano, Sérgio Guerra disse, também por meio de nota, que a CPI tomou um "rumo incoerente e sinuoso", e que o relatório final "é uma colcha de retalhos na qual fica reproduzida uma ação deliberada contra o PSDB e o governador Marconi Perillo, em meio à proteção dos verdadeiros envolvidos no escândalo, que começa no contraventor Carlos Cachoeira e avança para as múltiplas intervenções da construtora Delta pelo Brasil afora".

Guerra ainda acusa ação de cúpula do PT: "Mas é claro que esse relatório nada mais é do que um produto da ação do PT para se defender do seu amplo comprometimento com o mensalão". Em relação à decisão do novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, de acelerar os depoimentos do mensalão mineiro, afirmou: "O PSDB é favor de toda e qualquer investigação. Essa questão não nos diz respeito. Não procurem o PT no PSDB, porque não vão encontrá-lo".

O ex-ministro José Dirceu, condenado a mais de dez anos de prisão no julgamento do mensalão, também entrou na discussão. Ele atacou a oposição e a imprensa em seu blog, e disse que o crime organizado teria tomado conta do governo do estado de Goiás:

"Na verdade é a imprensa, junto com a oposição, que faz uso político da CPI. Perto do fim do julgamento da AP 470 (mensalão), tentam enterrar a CPI que tem mais do que elementos comprobatórios para indiciar todos os investigados que estão no relatório final".