Título: Mudança de tática
Autor: Feuerwerker, Alon
Fonte: Correio Braziliense, 14/10/2009, Política, p. 4

Agora, a cúpula nacional do PMDB quer fechar primeiro o acordo com Dilma, deixando as pendências regionais para depois. Aceitando, inclusive, palanques separados do PT em alguns estados

Em algum momento das últimas semanas, a cúpula nacional do PMDB percebeu que estava a caminho de uma armadilha. Como as negociações com o PT nos estados não parecem avançar, transformá-las em premissa do acordo nacional com a candidata Dilma Rousseff começava a ter cheiro de receita certa para ir a lugar nenhum. E as coisas caminhariam pelo rumo óbvio. A certa altura de 2010, governo e PT concluiriam, docemente constrangidos, pela impossibilidade de o PMDB unificar-se em torno de qualquer coisa. Em consequência, o partido ficaria fora da disputa nacional, abrindo talvez espaço para o PT compor com o PSB do pré-candidato Ciro Gomes.

Uma situação que não repercutiria tão mal assim no PMDB, dado que a força política da legenda localiza-se há muito nos caciques regionais. Que em 2011, vitaminados por um provável bom desempenho nas urnas (a julgar pelo resultados das eleições recentes), aliar-se-iam com o vencedor da corrida pelo Palácio do Planalto. E a vida seguiria, do jeitinho com que o PMDB está acostumado, desde pelo menos a volta das eleições diretas para presidente. Tampouco no Planalto e no PT esse desenlace faria brotar lágrimas de desespero. Ponto de honra para o governismo é o PMDB não caminhar com a oposição. O resto, discute-se.

Daí que a cúpula nacional do PMDB tenha tomado a iniciativa de inverter a equação. Agora, quer fechar primeiro o acordo com Dilma, deixando as pendências regionais para depois. Aceitando, inclusive, que o PT lance seus candidatos nos estados-problema, na fórmula de mais de um palanque presidencial em cada lugar. Onde for possível a composição, ótimo. Onde não for, que se multipliquem os palanques. Mas como convencer os governadores e chefes locais do PMDB a aceitar o novo caminho? O argumento é direto: será melhor para os candidatos do PMDB dividir o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva do que fazer campanha contra um presidente da República aprovado por quatro em cada cinco brasileiros. A tese encontra especial acolhida de Minas Gerais para cima.

Em resumo, o PMDB sinaliza que pode conviver bem com palanques separados no Pará, na Bahia e no Rio de Janeiro. E acredita que o PT vai acabar apoiando o atual ministro peemedebista das Comunicações, Hélio Costa, em Minas Gerais. Se a estratégia vai dar certo, o tempo dirá. Mas, como diria Ulysses Guimarães, nada como sua excelência, o fato político. Semana que vem, o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), formalmente licenciado da presidência do partido, vai aparecer numa foto com Lula e Dilma, possivelmente todos de mãos dadas e erguidas. Com a imagem na imprensa, um passo terá sido dado.

Se a política é feita também de símbolos, na próxima semana os aliancistas do PMDB e do PT terão obtido um valioso. Pena que da cerimônia pré-nupcial estará ausente o PSDB, que com seus votos decisivos nas duas últimas eleições para a Presidência da Câmara dos Deputados ajudou a consolidar a hoje bonita relação entre seus futuros adversários.