Título: É como voto, senhor presidente, diz Barbosa por engano
Autor: Souza, André de; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 22/11/2012, País, p. 6

No primeiro dia na Presidência do STF, relator do mensalão aparece mais sereno

BRASÍLIA No seu primeiro dia como presidente do Supremo, o ministro Joaquim Barbosa trocou o número de sessões realizadas este ano na Corte, esqueceu-se por um instante de que é ele o presidente, e se confundiu ao chamar os colegas para votar. Mas o estilo já é outro. Mais sereno, paciente e sem discutir com os ministros, Barbosa demonstrou, nas palavras de um dos advogados, seu lado "paz e amor".

- É outro Joaquim. Mais light, mais tranquilo. Uma maravilha. É o lado paz e amor do Joaquim - disse o advogado Paulo Sérgio Abreu, defensor de Geiza Dias e Rogério Tolentino. - Se ele fosse sempre assim, teria brigado menos e esse processo já tinha acabado.

Ao anunciar a pena de cinco anos e dois meses para Henrique Pizzolato, por peculato, Barbosa encerrou assim:

- É como voto, senhor presidente.

A plateia deu risada.

- É a falta de hábito - explicou ele.

- Mas essa cadeira está lhe fazendo bem. Ainda não o vi de pé - brincou Marco Aurélio, referindo-se ao problema de coluna de Barbosa.

- Mas não para a minha espinha - respondeu Barbosa, que levantou poucas vezes de sua cadeira. Apenas três.

No julgamento de uma imputação a João Cláudio Genu, assessor do PP, Barbosa surpreendeu-se quando o revisor Ricardo Lewandowski iniciou seu voto.

- Mas o ministro Lewandowski vota nesse caso? Acho que não vota - disse Barbosa.

- Voto, sim, senhor presidente - respondeu Lewandowski, com a concordância dos demais colegas.

O ministro que absolve o réu não vota na dosimetria. Não era o caso.

Entre os advogados havia uma brincadeira sobre quem seria o corajoso a pedir a palavra no plenário com Barbosa presidente. O relator, antes de virar presidente, ficava contrariado com as intervenções dos advogados. Marcelo Leal, advogado do ex-deputado Pedro Henry (PP-PE), pediu a palavra e teve autorização do presidente para prosseguir com sua questão de ordem.

- Sei que arrisquei, mas sobrevivi - brincou Leal.

Barbosa rejeitou a questão, dizendo que o advogado não tinha razão.