Título: Onda de violência em São Paulo derruba secretário de Segurança
Autor: Uribe, Gustavo; Voitch, Guilherme
Fonte: O Globo, 22/11/2012, País, p. 12

Homicídios aumentaram 92% em outubro em relação ao mesmo período de 2011

Gustavo Uribe, Guilherme Voitch e Marcelle Ribeiro

SÃO PAULO A onda de violência em São Paulo derrubou ontem o secretário de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, substituído pelo ex-procurador-geral de São Paulo Fernando Grella Vieira, que tomará posse hoje. A mudança foi feita no mesmo dia da divulgação de dados alarmantes sobre a violência. Segundo o governo estadual, o número de homicídios aumentou 92% em outubro na comparação com o mesmo mês do ano passado, de 78 para 150 casos. O mês foi o mais violento de 2012 até agora, com um aumento de 12% no número de homicídios em relação a setembro.

Com a troca no comando da Segurança, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tenta retomar o controle da Polícia Militar e o diálogo com a Polícia Civil. A mudança, programada para o início do ano que vem, foi antecipada pela crise no comando da secretaria, que culminou com a troca de farpas, em outubro, entre o secretário e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Para os próximos dias, o governador planeja substituições nos demais cargos da pasta, bem como nos comandos das Polícias Civil e Militar. O secretário-adjunto de Segurança Pública, Jair Burgue Manzano, também deixou o cargo. Ontem, o governador admitiu que o estado está enfrentando momentos difíceis no combate à criminalidade.

- Nós reconhecemos as dificuldades que estamos passando e vamos nos empenhar de forma redobrada. O Fernando Grella foi duas vezes procurador-geral de São Paulo e é uma pessoa com grande experiência, com quase trinta anos como promotor e procurador - afirmou Alckmin.

A indicação do ex-procurador-geral para o comando da pasta partiu do próprio governador, defensor das mudanças promovidas no Ministério Público. Em quatro anos à frente da Procuradoria-Geral de Justiça, Fernando Grella fortaleceu o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e definiu como uma de suas prioridades a investigação de crimes planejados de dentro dos presídios de São Paulo. O novo secretário também foi o responsável pela licitação de equipamentos de grampo que permitem ao Ministério Público realizar interceptações telefônicas em investigações contra o crime organizado.

A primeira sondagem para que Fernando Grella substituísse Ferreira Pinto foi feita há dez dias, por meio de um interlocutor de Alckmin. Na semana passada, o governador chamou o novo secretário ao Palácio dos Bandeirantes para formalizar o convite. O ex-procurador-geral deu a resposta positiva apenas no início desta semana, após conversar com a família. A expectativa do governo estadual é de que o novo secretário faça uma gestão "menos truculenta" e "mais estratégica" no comando da segurança pública, com investimentos na área de inteligência.

É esperado também que ele retome o controle da Polícia Militar e melhore o diálogo com a Polícia Civil, com a qual firmou parcerias quando esteve à frente do MP, sobretudo na prisão de líderes da facção criminosa responsável pela atual onda de violência. Em sua tentativa de acabar com a corrupção na esfera policial, Ferreira Pinto criou desafetos e afastou o comando da Polícia Civil do governo estadual.

Plano de combate à violência será alterado

Ontem, em entrevista ao G1, Fernando Grella admitiu que o atual plano de combate contra a violência precisa de "aprimoramento". Ele assegurou que os convênios com o governo federal na área de segurança pública serão mantidos.

- O plano de segurança está em andamento, mas deve ter alterações em novas versões, requer um aprimoramento. Só falarei de detalhes do que pretendo fazer após a posse - afirmou.

Na nova função, os principais desafios do novo secretário, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, serão integrar as Polícias Civil e Militar, reduzir o número de assassinatos de agentes policiais, investir na modernização dos métodos de investigação e reduzir o poder das facções criminosas. A diretora do Instituto Sou da Paz, Luciana Guimarães, avalia que a mudança é uma oportunidade para implantação de uma nova gestão de segurança em São Paulo. Ela acredita que o novo secretário tem credenciais para implantar essa inovação.

- É preciso ter clareza de metas, integrar as policias, aproximar a polícia da população e da universidade. Pelo que ele fez no Ministério Público, com investimento em inovação e tecnologia para busca de informações, ele apresenta condições. Resta saber se terá espaço para fazer esse trabalho - avaliou.

A diretora do Sou da Paz acredita ainda que Fernando Grella vai precisar manter as diretrizes de Ferreira Pinto no combate à corrupção de policiais civis, mas terá de se esforçar para tentar reduzir a letalidade de policiais militares. Neste ano, 94 policiais militares foram mortos em São Paulo. Ao todo, 298 pessoas foram assassinadas desde o início de outubro na Região Metropolitana de São Paulo.

O novo secretário integra o Ministério Público desde 1984 e atuou como promotor nas áreas cível e criminal. O seu primeiro mandato no comando da Procuradoria-Geral de Justiça, em 2008, representou o fim da influência do ex-secretário Luiz Antonio Marrey (Segurança Pública) no Ministério Público. Em doze anos, o aliado do ex-governador José Serra ou esteve à frente do cargo ou tinha um aliado no posto.