Título: Zelaya admite não retornar ao poder
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 14/10/2009, O Mundo, p. 17

Presidente deposto afirma que falta de acordo deixará governo interino fraco e isolado

Faltam menos de 24 horas para terminar o prazo dado pelo líder deposto de Honduras, Manuel Zelaya, para retomar a presidência. No entanto, ontem ele admitiu pela primeira vez que talvez essa possibilidade não se concretize. ¿Se chegarmos às eleições sem um acordo, o que acontecerá é que a crise vai se aprofundar, será um governo fraco, espúrio, a comunidade internacional vai manter o isolamento, a menos que decidam entregar os golpistas aos tribunais de justiça internacional¿, destacou, em entrevista ao hondurenho canal 11.

Honduras se encontra às voltas com o processo de diálogo mediado pela Organização de Estados Americanos (OEA). Pessimista, Zelaya também não diz o que vai fazer se não houver uma solução que lhe devolva o cargo. Uma fonte do governo interino de Roberto Micheletti disse ao Correio que a polícia já se prepara para o pior. ¿Entendemos que estão convocando uma desobediência a nível nacional e colocarão bombas em pontes, lojas, centros comerciais¿ A polícia sabe e estaremos atentos a qualquer distúrbio¿, revelou a fonte.

Vilma Morales, ex-presidenta do Tribunal Supremo de Justiça e representante de Micheletti, respondeu ontem ao ultimato de Zelaya e pediu que não se imponham prazos para a comissão. ¿Eu acho que pôr pressão e um teto não vai nos ajudar a manter serenidade no diálogo¿, declarou. Outro negociador do governo interino, Armando Aguilar, também declarou não saber quanto tempo durará a negociação. ¿Poderia terminar em uma hora, no fim de outubro ou na véspera das eleições (em novembro), mas não estou dizendo que possa terminar muito tarde¿, opinou.

Ontem, os representantes de Zelaya e de Micheletti se reuniram para retomar as negociações baseadas no Acordo de San José, mediação proposta em julho pelo presidente costa-riquenho e Nobel da Paz, Óscar Arias. O diálogo é celebrado a portas fechadas em um hotel de Tegucigalpa, sob observação de um representante da OEA. Durante a reunião, o líder sindicalista e um dos coordenadores da Frente de Resistência contra o Golpe de Estado, Juan Barahona, renunciou ao posto de negociador de Zelaya, por não estar de acordo em desistir da convocação da Assembleia Constituinte. O presidente deposto já abriu mão da demanda. No lugar do sindicalista, assumiu o advogado Rodil Rivera. ¿Mesmo com o regresso do presidente Zelaya, seguiremos lutando pela Constituinte¿, disse Barahona.

Integração O sindicalista afirmou que os negociadores optariam por um ¿governo de integração¿, composto de representantes dos cinco partidos. Ainda segundo Barahona, as partes concordariam em renunciar à anistia pelos delitos cometidos ¿antes, depois e durante 28 de junho (data em que Zelaya foi expulso do país)¿.

Há 46 dias das eleições, as autoridades do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) escolheram as sete indústrias gráficas que imprimirão 14 milhões de cédulas eleitorais. A impressão começará na sexta-feira. No entanto, dois candidatos à presidência insistem que só participarão do pleito caso Zelaya seja restabelecido no governo: César Ham, do Partido Unificação Democrática (UD), e o independente Carlos H. Reyes.

Já os candidatos do Partido Liberal, Elvin Santos, e do Partido Nacional de Honduras, Porfirio Lobo, concordam que a saída para a crise são as eleições. ¿Só temos dois caminhos: ou vamos pelo caminho da democracia, que são as eleições, ou vamos pelo das armas¿, afirmou Lobo.