Título: Esperança de trabalho mesmo depois da obra
Autor: Batista, Micheline; Moura, Aline
Fonte: Correio Braziliense, 15/10/2009, Política, p. 3

Empregados na transposição do Rio São Francisco acreditam que empreendimento vai garantir vagas no mercado. Lula dorme em alojamento montado nos canteiros

Obras da transposição do Rio São Francisco em Pernambuco

Custódia (PE) ¿ Cerca de 1,5 mil homens trabalham no lote 11 do projeto de transposição de águas do Rio São Francisco, entre os municípios pernambucanos de Sertânia e Custódia. Gente como Leonildo Lourenço da Silva, 27 anos, natural de Limoeiro, Mata Norte do estado. Ele está na obra há três meses e, pedreiro, tem a missão de concretar o fundo desse trecho do Eixo Leste. A rotina no canteiro de obras começa às 7h e vai até as 16h30, de domingo a domingo. Mora em Custódia, mas toma café da manhã e almoça no trabalho e vê, aos poucos, uma parte do megaprojeto, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sair do papel.

¿Isso aqui é uma bênção mandada por Deus. Água é fonte de vida¿, orgulha-se Leonildo, que deixou a esposa em Limoeiro para ganhar a vida no Sertão. Mesmo apenas com o ensino fundamental, o operário acumula experiência em outros empreendimentos e acredita que não ficará desempregado quando a obra acabar. Ele trabalhou, recentemente, na construção de um teatro em Guarulhos (SP), erguido por uma das empresas integrantes do consórcio responsável pelo lote 11 do projeto de transposição, a OAS. Além dessa construtora, fazem parte do grupo Galvão Engenharia, Construtora Barbosa Mello e Coesa.

Para cuidar da primeira fase das obras civis, montagem, testes, comissionamento de equipamentos mecânicos e elétricos, o consórcio está recebendo R$ 250,92 milhões. De acordo com informações do último balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o lote 11 está com 33,8% de execução. Ao todo, a transposição já emprega oito mil pessoas trabalhando em três turnos. Segundo o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, serão 10 mil trabalhadores até o fim do ano.

O projeto é composto por dois grandes canais, Eixo Norte e Eixo Leste, que vão percorrer Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará ao longo de mais de 700 quilômetros. Lula quer terminar o Eixo Leste, com seus 220 quilômetros, até 2010. Vai do Reservatório de Itaparica até próximo ao município de Monteiro (PB). O Eixo Norte parte de Cabrobó, com pouco mais de 500km, e vai até o Ceará. Esse, o presidente Lula quer concluir até 2013.

Dormitório

Toneladas de brita, tapumes de fibra e lonas foram trazidas ao canteiro de obras para montar o alojamento de Lula, da comitiva presidencial e da imprensa. Lula ¿ que chegaria à região ontem à noite e ficará até amanhã ¿ não dormiu em tendas ou ¿acampado¿, como se cogitou inicialmente. O antigo escritório do engenheiro-chefe da obra foi remodelado para o presidente. O espaço foi dividido em quartos, onde também se hospedou a ministra Dilma Rousseff.

Apesar de ser um alojamento improvisado, tudo foi planejado para garantir o conforto de Lula. O bufê oferecido à comitiva presidencial foi do La Cuisine, com direito a bebidas e canapés. Nove cozinheiros e 20 garçons estavam à disposição dos convidados em três restaurantes separados ¿ um para 72 pessoas e outros dois para 64 cada.

Foram preparados 10 quartos para empresários, outros 16 para ministros e governadores, com direito a camas king size, frigobar e banheiro privativo. Não havia televisores nestes espaços, exceto na suíte presidencial, onde também estenderam um tapete azul para receber Lula. Bem próximo ao alojamento presidencial, a organização do evento mandou construir uma pista de pouso para helicóptero. O local, de tamanho não revelado, ainda estava recebendo os últimos retoques quando a reportagem chegou, na tarde de ontem. Havia cheiro de piche e máquinas em todos os lugares.