Título: Teste eleitoral para uma transição pós-Chávez
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 16/12/2012, Mundo, p. 49

A deterioração da saúde do presidente venezuelano Hugo Chávez transformou as eleições regionais que serão realizadas hoje no país numa espécie de ensaio geral para uma eventual nova corrida presidencial no curtíssimo prazo. O resultado dos comícios para eleger os 23 governadores venezuelanos — atualmente 16 são chavistas, e sete, opositores — será o ponto de partida de um processo de transição política que, na visão de analistas locais, começou no último dia 8 de dezembro, quando o líder bolivariano anunciou que seria submetido a uma quarta cirurgia contra o câncer e revelou ao país que o vice-presidente, Nicolás Maduro, foi o escolhido para disputar a Presidência pelo chavismo em futuras eleições, caso o chefe de Estado seja obrigado, por motivos de saúde, a abandonar o poder.

Neste cenário, cada vez mais provável, a oposição precisa ter um bom desempenho eleitoral para iniciar, fortalecida, uma nova campanha presidencial. O chavismo, que nas eleições de outubro passado obteve quase 55% dos votos, também buscará garantir uma ampla base de apoio à candidatura de Maduro. Para ambos os lados desta disputa, os votos de hoje são vistos como cruciais para enfrentar o que poderia ser o primeiro teste eleitoral da era pós-Chávez.

FUTURO DE CAPRILES EM JOGO

As incertezas sobre a evolução do câncer que o presidente garantiu ter derrotado durante sua última campanha eleitoral provocaram um clima de nervosismo que afetou a todos por igual. Na última semana de campanha, chavistas e antichavistas pediram aos venezuelanos que participem da eleição, para evitar um alto nível de abstenção (o voto na Venezuela não é obrigatório). O apelo foi feito através dos candidatos e, principalmente, das redes sociais.

— Votar é a melhor maneira de acelerar as mudanças que queremos para nosso país — declarou o deputado Julio Borges, do partido oposicionista Primeiro Justiça.

O mais importante para a oposição, explicou Ignácio Ávalos, do Observatório Eleitoral Venezuelano, é "preservar os governos de Zulia e Miranda, dois dos mais importantes do país". No melhor cenário, disse o analista, os candidatos opositores também poderiam vencer em Mérida (onde o chavismo está dividido), Lara (governada pelo ex-chavista Henry Falcón), Monagas (nas mãos de um chavista dissidente) e até mesmo em Bolívar (onde o partido governista também rachou). As derrotas mais esperadas para a oposição, entre os estados que hoje detém, são em Nova Esparta e Carabobo.

— O resultado desta eleição é importante por dois motivos: para defender o federalismo e frear as tentativas de criar estados comunais que dependam do Executivo e, principalmente, para posicionar os candidatos de futuras eleições presidenciais — disse Ávalos.

A possibilidade de modificar as regras geopolíticas do país e criar estados comunais é defendida por Chávez e pelos principais dirigentes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Se a oposição perder muitos estados, enfatizou o representante do observatório, "o governo, com Chávez ou Maduro, terá mais força para avançar com o projeto".

Mas, nas atuais circunstâncias, o mais importante é a definição dos nomes que protagonização a transição política que parece estar começando no país. Em Miranda, o ex-candidato presidencial Henrique Capriles, que obteve 45% dos votos em outubro passado, disputará a releição. Seu rival será o ex-vice-presidente Elías Jaua. Se Capriles vencer, ficará bem posicionado para tornarse, pela segunda vez, o candidato único da oposição em eleições presidenciais contra o chavismo. Se for derrotado por Jaua, será, na visão da maioria dos analistas, carta fora do baralho. Paralelamente, Jaua ganhará peso dentro do chavismo, que vive às voltas com rumores de intrigas e divisões.

Em Zulia, o governador opositor Pablo Pérez, derrotado em fevereiro por Capriles nas primárias da oposição, também buscará a reeleição. Seu adversário será o militar reformado e aliado de Chávez no golpe fracassado de 1992, Francisco Arias Cárdenas. O ex-colega de armas do líder bolivariano é uma das grandes apostas desta eleição (vários militares disputarão governos regionais). Para chavistas e antichavistas, o resultado será fundamental: se Capriles perder e Pérez triunfar em Zulia, maior estado da Venezuela, o governador certamente tentará tornar-se o candidato da oposição em 2013.

A aposta dos opositores é de que seus eleitores perceberão a importância do pleito e irão, em massa, às urnas. Já os chavistas esperam que seus seguidores decidam votar como um gesto de apoio e fidelidade a Chávez.

— O presidente nos deu uma instrução e temos de fazer um esforço para conquistar os 23 governos regionais. Vamos dar esse presente (a Chávez) para que sua recuperação seja tranquila — declarou o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.