Título: Gurgel ainda não analisou depoimento de Valério
Autor: Souza, André de
Fonte: O Globo, 20/12/2012, País, p. 5

Procurador afirmou, porém, que qualquer investigação contra Lula seria feita pela 1ª instância

BRASÍLIA O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, informou ontem que ainda vai analisar o depoimento prestado por Marcos Valério em setembro ao Ministério Público, no qual o operador do mensalão acusa o ex-presidente Lula de ter conhecimento do esquema e de ter sido beneficiado por ele.

Gurgel disse que, só depois disso, tomará alguma decisão a respeito. Mas adiantou que qualquer investigação contra Lula será tomada pela primeira instância da Procuradoria da República, uma vez que ele, não sendo mais presidente, não tem prerrogativa de foro para ser investigado pelo procurador-geral.

Ao mesmo tempo, Gurgel voltou a dizer que é preciso ter cuidado com as declarações dadas por Valério.

- Concluído o julgamento, agora eu vou, sim, analisar o depoimento e serão tomadas as providências, enfim, que são cabíveis para a completa investigação de tudo que demande apuração - disse Gurgel, que, por outro lado, não deu prazo de quando fará isso.

Questionado se as denúncias de Valério são graves, Gurgel respondeu:

- Temos que examinar, e isso ainda não foi feito em profundidade. Com muita frequência, Marcos Valério faz referência a declarações que ele considera bombásticas e, quando nós vamos examinar em profundidade, não é bem isso - afirmou. - Mas vamos ver o que existe no depoimento que possa motivar futuras investigações. Como sempre, nada deixará de ser investigado. Quanto ao presidente Lula, eventual investigação já não compete ao procurador-geral da República, já que o ex-presidente já não detém prerrogativa de foro. Então, se estiver algo relacionado ao ex-presidente, isso será encaminhado à Procuradoria da República de primeiro grau.

Gurgel negou que Valério tenha prestado outro depoimento além do realizado em setembro. Ele afirmou que Valério entregou alguns documentos, como comprovantes de depósitos, que ainda serão avaliados.

- A postura é sempre de examinar e verificar a autenticidade desses documentos. Ele entregou alguns documentos, muito poucos, e esses documentos agora serão avaliados, para que se possa tomar as providências necessárias à apuração.

Gurgel criticou o momento escolhido por Valério para colaborar, quando ele já havia sido condenado pelo STF. O procurador disse que o MP não pode ser instrumento de ações que não sejam adequadas.

- Na verdade, o interesse de Marcos Valério de colaborar seria mais oportuno se manifestado antes do julgamento da ação penal 470 (mensalão). Claro que o Ministério Público está aberto a qualquer momento a ouvi-lo se tiver informações realmente valiosas, digamos assim. Porque muitas vezes se afirma o interesse de colaborar, e as informações que são trazidas ao Ministério Público já foram inclusive publicadas pela imprensa - disse Gurgel.

No depoimento, Valério afirmou que foi ameaçado de morte por Paulo Okamotto, assessor do ex-presidente Lula. Questionado se Valério precisa de proteção, o procurador afirmou que fez essa pergunta ao advogado de Valério. Segundo Gurgel, ele respondeu que isso não era necessário.

- A resposta peremptória dele foi: "Por enquanto, não". E me coloquei inteiramente à disposição para que, tão logo haja uma sensação de Marcos Valério estar em perigo, isso seja comunicado ao Ministério Público para que sejam adotadas as providências necessárias para resguardar a sua segurança.

Gurgel também foi questionado se o Ministério Público se sente pressionado para tomar alguma medida em relação a Lula. Ele respondeu:

- As pressões, eu diria, fazem parte do cotidiano do MP. Mas isso aí, de certa forma, é um desdobramento da ação penal 470. E nós vamos continuar trabalhando com a mesma firmeza de sempre e a mesma serenidade de sempre.