Título: Oposição depende de pleito regional
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Fonte: O Globo, 11/12/2012, Mundo, p. 31

Desânimo de eleitores pode prejudicar futuro da Mesa de Unidade Democrática

Correspondente

BUENOS AIRES Depois de ter realizado sua melhor campanha na era Chávez nas eleições presidenciais de outubro passado, a oposição venezuelana está novamente desnorteada e seu futuro, segundo apontaram analistas locais ouvidos pelo GLOBO, dependerá, em grande medida, do resultado das eleições regionais do próximo domingo. A derrota de Henrique Capriles em 7 de outubro ainda não foi digerida por amplos setores opositores, que, de fato, acreditaram na possibilidade de sua vitória. O desânimo de muitos eleitores poderia prejudicar o desempenho de candidatos opositores até mesmo em estados atualmente governados por dirigentes antichavistas, como Carabobo e Nova Esparta.

Em contrapartida, a nova recaída do presidente Hugo Chávez e os sinais de apoio de diferentes segmentos da sociedade devem fortalecer os candidatos do governo, na avaliação de especialistas venezuelanos.

- O anúncio da nova cirurgia e a sensação de que a saúde do presidente não está bem deu novo impulso às candidaturas chavistas - disse Ignácio Ávalos, diretor do Observatório Eleitoral Venezuelano.

união é o principal desafio

Para ele, "todo o clima de apoio a Chávez, as missas, os documentos de apoio ao presidente assinados pelas Forças Armadas e pelos governadores, ajudarão os chavistas na eleição de domingo". Já a oposição, que, segundo ele, fez uma campanha mais fraca e que despertou pouco entusiasmo entre seus eleitores, "deverá trabalhar arduamente para manter-se unida".

- Após o anúncio de Chávez no sábado passado, os principais dirigentes da oposição começaram a pensar em eventuais candidaturas - enfatizou Ávalos.

Não está claro se Capriles, o grande fenômeno eleitoral deste ano no país, será o candidato da oposição em eventuais eleições presidenciais no curto prazo, caso a saúde de Chávez continue se deteriorando. Dependerá, entre outros fatores, do resultado eleitoral do próximo domingo. Capriles tentará a reeleição como governador de Miranda, mas sua vitória não está garantida. O alto nível de abstenção projetado pelas principais empresas de consultoria do país poderia ter efeito particularmente negativo para os candidatos da oposição.

- Estamos vivendo uma situação difícil para os dois lados, governo e oposição - apontou o ex-embaixador e analista político Julio César Pineda.

Para ele, preservar a união é o grande desafio da oposição neste momento.

conciliação nacional

Internamente, as divisões existem. Nas primárias opositoras de fevereiro deste ano, ficou claro que Capriles representava uma ala mais moderada da Mesa de Unidade Democrática (MUD). O governador fez uma campanha no estilo "Lula paz e amor", evitando ataques diretos ao presidente e apostando num discurso de conciliação nacional. Esta estratégia rendeu ao opositor um patamar superior a 44% dos votos, o equivalente a um total de 6,5 milhões de eleitores.

Já outros dirigentes, como a deputada Maria Corina Machado, que disputou as primárias, defendem a necessidade de uma posição mais combativa em relação ao chavismo e ao próprio líder bolivariano. A própria Maria Corina já protagonizou discussões públicas com Chávez, no âmbito da Assembleia Nacional (o Congresso venezuelano).

Cientes de seus desafios, nos últimos dias representantes da MUD insistiram em que a unidade será mantida.

- Este resfriado nos pega com lenço na mão porque existe um processo unitário que foi capaz de fazer coisas muito difíceis e que será capaz de apresentar uma alternativa a todos os venezuelanos - declarou o secretário executivo da MUD, Ramón Guillermo Aveledo.