Título: Futuro da Venezuela ainda é uma incógnita
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Fonte: O Globo, 20/12/2012, Opinião, p. 18

Acomoção produzida a partir da luta de Hugo Chávez pela vida, em Cuba, levou o PSUV, o partido chavista, a uma ampla vitória nas eleições regionais. A oposição, que controlava sete dos 23 estados venezuelanos, perdeu quatro. O governo passou a controlar 20. O único trunfo que a oposição tem a comemorar é a reeleição de seu líder, Henrique Capriles, no estado de Miranda, onde fica Caracas. O chavismo investiu pesadamente para derrotá-lo, escalando para a disputa o vice-presidente Elias Jahua, homem de confiança de Chávez. Em vão.

As eleições regionais não se destacaram - a abstenção foi de quase 50%, o voto não é obrigatório -, pois todas as atenções estão voltadas para Havana, onde Chávez se submeteu à quarta operação para se tratar de um câncer pélvico. Parecem cada vez menores as chances de ele reunir condições para assumir um novo mandato no dia 10 de janeiro, após 14 anos no poder. O caudilho bolivariano, antes de viajar a Cuba para a cirurgia, ungiu como substituto e herdeiro o chanceler Nicolás Maduro, com grande trânsito junto à liderança cubana.

Se Chávez não puder tomar posse, o poder deverá passar a Diosdado Cabello, outro alto quadro do chavismo e presidente da Assembleia Nacional, que terá a missão de convocar novas eleições em 30 dias. Cabello acaba de emitir, em "caráter pessoal", a opinião de que não se "pode contrariar a vontade do povo" e que a posse poderia ser adiada. A ver. Mas este será um período de grande tensão, pois, na falta do chefão absoluto, nada garante que sua vontade seja feita. As Forças Armadas são o principal esteio do chavismo e, num momento delicado como o atual, nelas poderão surgir inquietações e iniciativas.

Se Chávez não tomar posse e não houver surpresas, Maduro deverá enfrentar Capriles em novo pleito presidencial. Nas eleições de outubro, a oposição se uniu na coalizão Mesa de Unidade Democrática (MUD) em torno da candidatura de Capriles, advogado e político de 40 anos. Ela chegou a pensar em vitória, mas o governador de Miranda obteve 45% dos votos, o melhor resultado de qualquer candidato contra Chávez, mas insuficiente para evitar o triunfo do caudilho.

Agora, Capriles tem fatores a favor e contra. Seria um enorme trunfo não ter Chávez como adversário. Maduro carece do carisma e da popularidade do patrão, embora não se possa descartar uma união dos chavistas em torno dele como uma espécie de tributo ao líder bolivariano. Por outro lado, a MUD não conseguiu manter, após a derrota em outubro, a unidade que demonstrara até então, algo que poderá enfraquecer Capriles.

A Venezuela entrou em nova fase. O chavismo não deverá ser o mesmo com Chávez debilitado ou morto. Formas autocráticas de poder têm esta fragilidade.