Título: Censo: desigualdade sobe em 3 estados
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 20/12/2012, Economia, p. 41

Rendimento de funcionários públicos cresce 40% em 10 anos

Cássia Almeida

A desigualdade de renda vem caindo há anos, porém, em uma década, três estados viram a concentração aumentar. Em Amazonas, Roraima e Distrito Federal, houve piora nesse indicador, segundo novos dados do Censo 2010, que o IBGE divulgou ontem. Quando se olha o rendimento de todas as fontes, o Índice de Gini - que mede distribuição de renda e, quanto mais perto de um, maior a desigualdade - subiu de 0,592 para 0,598 no Amazonas, de 0,569 para 0,579 em Roraima e de 0,630 pra 0,634 no Distrito Federal, o mais alto entre todas as regiões e o único acima de 0,6. Na outra ponta, pela primeira vez no Censo, um estado tem Gini inferior a 0,5. Em Santa Catarina, a concentração caiu para 0,497.

- O reajuste real do funcionalismo pode ter influenciado no DF, que concentra a máquina pública, mas é preciso olhar melhor os dados. A renda no Censo tem suas limitações e a tendência da desigualdade é de queda - disse Rafael Osório, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea.

Na média, a concentração caiu 5,9%. A explicação está nos ganhos maiores de renda nas faixas mais baixas. Entre os 10% mais pobres, o crescimento real foi de 29,8%, enquanto entre os 10% que ganham mais, essa elevação ficou em 9,5%. Na segunda pior faixa de renda, o ganho foi de 48,3%.

No mercado de trabalho, a desigualdade caiu. A alta do salário mínimo ajudou a melhorar os rendimentos na metade inferior da pirâmide de renda. Mesmo com redução de 24,6% na renda dos 10% que ganham menos, a distribuição melhorou nas faixas de renda imediatamente seguintes, o que explica a queda no Índice de Gini. Os 50% mais pobres ficaram com 15,2% em 2010, contra 12,7% em 2000. Os 10% que ganham mais detiveram 48,8% da renda. Já foi pior, em 2000, ficavam com 51,3%.

O rendimento mensal dos trabalhadores aumentou. Já os empregadores viram seus ganhos caírem 18,6%, contra alta de 15,8% dos empregados. Os conta própria tiveram ganho de renda menor, de 6,5%. E os militares e funcionários públicos ganharam mais 40,9%, seguidos dos trabalhadores domésticos com carteira assinada, 33,9%. Ainda assim, em 2010, este grupo recebia em média R$ 640 por mês.

trabalho infantil aumenta

A carteira assinada faz subir o salário. Um empregado registrado ganhava R$ 1.255 em 2010; o militar, R$ 2.407; e os trabalhadores sem carteira, R$ 658 mensais. Os trabalhos mais básicos são os que absorvem mais mão de obra no Brasil: 20,1% dos ocupados estão nessas funções; quando se divide por sexo, as mulheres aparecem mais nessas funções que pagam menos, 24%. Entre os dirigentes, só 3,5% das mulheres ocupam esses cargos. Entre os homens, 4,2%.

O Censo mostra o avanço da mulher no trabalho. Em 2000, 35,4% estavam ocupadas. Em 2010, 43,9% - alta de 24%, contra 3,5% dos homens, devido ao já alto nível de ocupação masculino de 63,3%.

Não houve queda no trabalho infantil. Pelo contrário, houve alta na proporção de meninos e meninas de 10 a 13 anos trabalhando, passando de 5,1% para 5,2%.