Título: Surpresas opostas
Autor: Leitão, Míriam
Fonte: O Globo, 08/12/2012, Economia, p. 34

Enquanto o crescimento desaponta para baixo, a inflação surpreende para cima. O ano terminará com PIB em torno de 1%, para um IPCA na faixa de 5,5%. Pelo quinto mês consecutivo, a inflação mensal deste ano foi maior do que a do mesmo período de 2011. As projeções indicam que o IPCA vai acelerar para 6% até março, mas depois voltará a cair.

Os alimentos subiram de preço de elevador e estão descendo de escada. As passagens aéreas aumentaram 11% em novembro. Inevitável lembrar como a desvalorização do real está batendo no custo das companhias. Os combustíveis são importados, e o dólar mais caro não ajuda.

Outros preços também surpreenderam no mês, como a energia elétrica, que subiu 1,28%, e os automóveis novos, que aumentaram mesmo com o IPI reduzido. Tudo isso fez com que a inflação viesse mais salgada do que o esperado. Os economistas previam 0,5% e deu 0,6%. Parece pouco, mas cada casa decimal conta muito quando o assunto é manter a inflação dentro da meta.

Há outro fator pressionando a alimentação: os serviços. Comer fora de casa está mais caro porque os restaurantes estão gastando mais com aluguéis e salários dos funcionários. Esse custo é repassado para o preço da refeição. No ano, a alta dos alimentos chega a 8,68%. Os serviços sobem 8,23% em 12 meses.

No acumulado do ano, os principais produtos que não pressionaram a inflação tiveram algum tipo de ajuda do governo. É o caso de automóveis e eletrodomésticos, que ficaram mais baratos pela queda do IPI; da gasolina, congelada pela Petrobras; e do etanol, que teve que cair de preço para competir com a gasolina. Sem essa mão amiga, o quadro para a inflação seria pior em 1 ponto percentual, pelas contas do professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.

Em 2013, a tendência é que esses artifícios continuem sendo utilizados. As reduções no IPI devem ser renovadas, haverá desonerações para diminuir o custo da cesta básica e a programada queda do preço da energia. Por isso, Luiz Roberto Cunha prevê que mesmo que o PIB volte a crescer mais forte, para 3,5%, o IPCA cederá um pouco, fechando em 5,23%.

Embora a inflação ainda não tenha visto o centro da meta na atual gestão do Banco Central, também não está no radar um cenário de descontrole de preços. A expectativa dos economistas é de que os juros não voltarão a subir e há até quem aposte em novos cortes, com a Selic sendo reduzida para 6,25%.

Preço para baixa renda sobe mais

A inflação da baixa renda, medida pelo INPC, estourou o teto da meta em várias capitais do país. No Brasil, a taxa acumulada em 12 meses está em 5,96%, mas em Belém chega a 7,72%. No Rio de Janeiro, 7,18%, em Salvador, 6,89%. Já em Brasília registra a menor variação, de 4,39%. Esse indicador tem um peso maior dos alimentos.