Título: Cristina Kirchner diz que não vai mudar rumos do governo
Autor: Oliveira, Eliane; Gama, Júnia
Fonte: O Globo, 08/12/2012, Economia, p. 37

Em reunião do Mercosul, presidente argentina cala sobre Lei de Meios

Presidentes. Dilma Rousseff (à esquerda) e sua colega argentina Cristina Kirchner, na cúpula do Mercosul

Ueslei Marcelino/Reuters

BRASÍLIA Sem citar explicitamente a controversa Lei de Meios, que estipula regras e limites para os grupos de mídia do país, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, disse, em discurso na reunião de chefes de Estado do Mercosul, que não mudará os rumos de seu governo, apesar de eventuais erros cometidos e das pressões internas. Cristina usou como exemplo o salmão patagônico, que nada contra a corrente para se reproduzir e depois morre.

A declaração da presidente argentina acabou causando confusão entre os jornalistas que cobriam a reunião de cúpula, por causa da associação com a Lei de Meios, mas a presidente esclareceu mais tarde que não se referia à lei.

- Não tenho vocação suicida, fiquem tranquilos. Não tenhamos medo, porque o que temos feito, temos feito bem, com o objetivo permanente de governar para nosso povo, suportando pressões e reprimindo alguns desejos - disse Cristina no discurso.

correa defende lei argentina

Momentos antes de deixar o Itamaraty para um encontro bilateral com a presidente Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, Cristina disse aos jornalistas que, quando falou sobre o salmão, estava se referindo aos países sul-americanos que nadam contra a corrente formada pelas nações desenvolvidas. Ela não respondeu às perguntas sobre a nova lei que regula o setor de mídia e comunicação na Argentina. Diante da insistência dos jornalistas sobre a Lei de Meios, desconversou:

- Nadando contra a corrente, os salmões chegam ao lugar onde vão desovar. E morrem, mas terminam produzindo e sendo cada vez melhores. A metáfora é que se pode ir contra o modelo neoliberal que produziu estragos e ter êxito - afirmou Cristina.

Já o presidente do Equador, Rafael Correa, foi mais direto e defendeu abertamente a nova lei argentina, que vem sendo criticada por setores da sociedade civil como uma forma de censura à imprensa.

- A sociedade tem o direito de controlar certos poderes por meio de leis. No mundo atual, o capital tem mais direitos que os seres humanos. Se alguém crê que criticar os negócios privados de empresas de comunicação é estar contra a liberdade de expressão, isso é tão inteligente quanto achar que criticar um presidente é se voltar contra a democracia - afirmou Correa, que também está participando, como observador, da reunião de chefes de Estado do Mercosul em Brasília.