Título: Para Dilma, PT não é perfeito, e Brasil deve muito ao partido
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 28/12/2012, País, p. 4

Após julgamento do mensalão, presidente nega crise entre poderes

BRASÍLIA Sem querer falar sobre o resultado do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), a presidente Dilma Rousseff, ao ser perguntada sobre as dificuldades enfrentadas pelo PT neste ano, disse que o país deve muito ao Partido dos Trabalhadores. Segundo Dilma, o PT é um produto da democratização no Brasil, não é perfeito, mas deu grandes contribuições ao país. Em café da manhã com jornalistas ontem, a presidente também descartou a existência de crise entre os poderes da República e reforçou a autonomia dos ministros que são indicados por ela para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).

- O Partido dos Trabalhadores é um dos grandes produtos da democratização do Brasil. Como qualquer obra humana, não é perfeito, mas deu e dá grandes contribuições ao país. Não só respeito como integro o PT. Tenho conhecimento da história de lutas dele. O Brasil deve muito a tudo que o PT fez - disse a presidente.

Dilma fez questão de dizer que falava da importância do PT, mas, ao perceber que poderia desagradar aos outros partidos da base de sustentação do governo, lembrou que seu partido não fez tudo sozinho e que as realizações contaram com o apoio de outras legendas aliadas ao governo. A presidente não respondeu à pergunta sobre o movimento feito por filiados ao PT, pós-mensalão, para lançar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto já nas eleições de 2014:

- Não falo sobre sucessão no meio do governo. Pretendo governar de hoje até o dia 31 de dezembro de 2014 com absoluto empenho. Não vou antecipar o fim do meu mandato porque isso não é politicamente necessário.

Em outra pergunta, na qual foi indagada sobre o resultado do mensalão, Dilma avisou aos jornalistas:

- Vocês não vão me ver manifestar sobre isso (mensalão). Não me manifesto sobre decisão de outro poder. Posso concordar ou discordar, mas como presidente da República, se eu fizesse isso, não estaria contribuindo para a governabilidade no país.

defesa da autonomia dos Poderes

A presidente Dilma Rousseff reforçou a importância da autonomia entre os três poderes da República, enfatizando que isso é uma pedra basilar da democracia. Segundo Dilma, como chefe do Executivo, ela não pode interferir no funcionamento de outros poderes. Dilma afirmou ainda não se arrepender de ter indicado o ministro Luiz Fux para o Supremo. Ela indicou Fux depois de intensa articulação. Em entrevista, o ministro admitiu que buscou apoio até mesmo de petistas condenados no mensalão. Muitos esperavam que ele fosse um voto a favor dos réus, mas Fux votou pela condenação deles.

- Depois que os ministros (do STF) são indicados, eles têm a distância integral da minha pessoa. Eu indico. A partir daí, eles que vivam as suas vidas. Não me arrependo de nada, estou muito velha para isso - disse Dilma.

A presidente descartou crise com os poderes em razão do atraso na votação do Orçamento da União de 2013, que só será retomada em fevereiro. Segundo a presidente Dilma, tudo foi acertado com os líderes.

- Neste país já vivemos uma crise por semana, mas este país hoje tem robustez. Não temos risco de ruptura. Por que no Congresso discordar de mim tem que ser crise? Não vamos chamar de crise o que não é. Estranho seria dizer: tem que aprovar tudo. É inexorável a presidente perder votações - afirmou.

Em relação aos vetos, Dilma foi mais cautelosa. Segundo ela, entre os mais de três mil vetos pendentes de votação no Congresso Nacional, muitos dizem respeito a gastos que os governos anteriores consideraram inadequados.

- Tivemos o cuidado de tomar medidas junto aos líderes e pedir atitudes ponderadas. É grave derrubar vetos de alguns bilhões de reais, vetos de 12 anos atrás. Nossa posição é de cautela. Não nos cabe discutir a decisão do Supremo, mas nos cabe preservar o Erário público.