Título: Brasileiro diz que foi agredido na Espanha
Autor: Lins, Leticia
Fonte: O Globo, 28/12/2012, País, p. 7

Maestro pernambucano acredita ter sido vítima de racismo de policiais

RECIFE O maestro pernambucano Israel de França, de 47 anos de idade, que mora há 22 na Espanha, denunciou ao Consulado do Brasil em Madri os maus-tratos que teria sofrido da Polícia Nacional daquele país, no último dia 23, em Granada, a 423 quilômetros da capital espanhola. Israel afirmou que foi retirado à força de um restaurante, onde tomava cerveja com um amigo brasileiro, por quatro policiais que o agrediram com socos e cassetetes.

O músico, negro, acredita ter sido vítima de racismo já que seu amigo, branco, nada sofreu. A discriminação não foi o primeiro trauma sofrido pelo maestro pernambucano: em 1983, ele ficou conhecido por ter interpretado um trecho da cantata "Jesus, alegria dos homens", de Johann Sebastian Bach, para provar a policiais de Recife que o violino que transportava não era roubado.

- Esse incidente na Espanha foi mais doloroso do que aquele que sofri na adolescência, no Brasil. Na época, eu era quase um garoto e estava correndo com um violino nas mãos. Os policiais me viram com tanta pressa e pensaram que eu tinha furtado o instrumento - lembrou.

O caso do menino violinista ganhou repercussão à época. Ele estudou Música na Universidade Federal de Pernambuco e em seguida foi convidado pelo Conservatório de Música de Lisboa, Portugal, onde ficou um ano. Depois, transferiu-se para a Espanha, fixando-se em Granada, onde é regente da Orquestra de Câmara de Granada e do Coral do Colégio de Advogados. Até então não havia enfrentado qualquer problema na Espanha, onde se casou e tem um filho.

- Estava tomando um chope no balcão do restaurante Puerta de Alcujarra com um colega brasileiro. Tínhamos acabado de chegar, quando o recinto foi invadido por quatro policiais que exigiram que nós dois saíssemos. Eles nos levaram para o hall de um prédio próximo e concentraram a pancadaria em mim. Me bateram no rosto, nas pernas, me agarraram pelo pescoço sem nenhuma motivação. O próprio garçom do estabelecimento pediu que eles não nos levassem, que éramos pessoas de bem. Mas ninguém foi ouvido. A pancadaria foi tão grande que caí. Eles acharam pouco e ainda me aplicaram tabefes enquanto estava no chão - relatou Israel.

A assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores informou que o Consulado Brasil em Madri já entrou em contato com a corregedoria da polícia espanhola, solicitando investigação rigorosa do caso. Israel de França, depois de hospitalizado e liberado, já se encontra bem. Segundo o Itamaraty, foi enviado um emissário de Madri para Granada, a fim de acompanhar as investigações e verificar se realmente houve abuso.