Título: Shangri-lá fecha e prejudica mil pessoas
Autor: Casemiro, Luciana
Fonte: O Globo, 28/12/2012, Economia, p. 29

Empresa é a 2ª operadora de turismo a encerrar atividades em menos de um mês. Justiça pode ser acionada

Cerca de mil clientes que compraram pacotes na Shangri-lá Viagens e Turismo estão com suas viagens, compradas antes de 20 de dezembro e com embarque até abril de 2013, ameaçadas. A operadora informou ontem, em comunicado, o encerramento de suas atividades, após meses de tentativas de contornar dificuldades financeiras, sem sucesso. A operadora afirma que entrará em contanto com os clientes para tentar realocá-los em viagens com umas das 97 operadoras filiadas à Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), que, segundo o comunicado, "se colocaram à disposição para ajudar".

É a segunda operadora de turismo a fechar as portas no intervalo de menos de um mês. No início de dezembro, a tradicional empresa de turismo paulista, Tia Augusta - famosa por levar adolescentes desacompanhados aos parques da Disney, nos Estados Unidos, desde a década de 70 -, encerrou suas operações deixando 500 clientes sem saber se iriam ou não viajar.

Os clientes podem fazer contato direto com a Shangri-lá pelo telefone (21) 3221-5400. Segundo a operadora, o atendimento está sendo feito por ordem de embarque, dando prioridade àqueles com viagem marcada para os próximos dias.

Especialista recomenda ir à Justiça

No comunicado, assinado pela direção da Shangri-lá - com 24 anos de existência e mais 200 mil clientes atendidos - a operadora esclarece que ingressará com pedido de recuperação judicial ou autofalência, com o objetivo de tentar ressarcir eventuais prejuízos dos consumidores. Entre os fatores que contribuíram para a decisão, o comunicado lista a existência de uma ação de dissolução de sociedade, movida por um ex-sócio, em trâmite na Justiça, e o fato de o principal sócio da empresa ter adoecido, além da alta do dólar e da "escassez de linhas de crédito para fazer frente ao forte endividamento".

Maria Inês Dolci, coordenadora Institucional da Proteste - Associação de Consumidores, diz que na prática não será tão fácil remanejar os consumidores nesta época do ano:

- O ideal seria que tivessem parado de vender assim que viram que não poderiam assumir os compromissos firmados. Apesar de haver o compromisso de colaboração entre as operadoras, sabemos que neste período a tendência é que os consumidores acabem ficando na mão. Realocar mil clientes não é tarefa simples.

Para a coordenadora da Proteste, a Shangri-lá deveria fazer um comunicado mais transparente sobre como fica a situação dos consumidores que já pagaram seus pacotes, aqueles que parcelaram e também sobre os embarques programados para o Ano Novo:

- Os consumidores que tiverem dificuldade de falar com a operadora, podem entrar em contato com as agências de viagens, companhias aéreas para saber se está confirmado seu pacote. Quem já pagou tudo e não tiver sua viagem garantida deve entrar com um pedido de liminar na Justiça para garantir seu embarque - orienta Maria Inês, lembrando que nos últimos casos de problemas com operadoras os clientes têm acabado com prejuízo.

Vinicius Leal, advogado do Procon-RJ, reforça a orientação de Maria Inês:

- O primeiro passo é sempre procurar a empresa, e quem estiver com datas de embarque próximas só tem o plantão do Judiciário para tentar uma solução célere. A marcha procedimental do Procon não vai surtir efeito para quem tem embarque marcado para este Ano Novo. Apesar disso, é fundamental registrar queixas pelo 151 ou diretamente no Procon. Ainda vamos estudar a melhor forma de atuação.

Cobrança extra para viajar

No início deste mês, a aposentada Márcia Alves Cruz pagou à vista três pacotes para Orlando, nos Estados Unidos, com embarque dia 16 de janeiro. O investimento total foi de R$ 16 mil. Ela, a filha e o filho - ao todo são oito pessoas da mesma família com pacotes comprados - estiveram no escritório da operadora na Avenida Rio Branco, no Centro do Rio, onde foram informados que a realocação é uma tentativa, mas que para tanto seria necessário o pagamento do valor de custo do pacote a outra operadora:

- A Shangri-lá fez reserva pela TAM, mas não confirmou, então a reserva já expirou. As reservas de hotel nem foram feitas. O resumo é que quem pagou à vista, como eu e o sogro do meu filho, se deu mal. E mesmo pagando a mais não há a certeza do embarque - queixa-se Márcia, indignada com o tratamento dado pela operadora.

Perguntada sobre o caso da consumidora, a Shangri-lá respondeu que, de fato, a solução seria ela adquirir um novo pacote, a preço de custo ou com grande desconto, em uma das operadoras afiliadas à Braztoa. Segundo nota da operadora, as pendências estão sendo analisadas caso a caso e há um empenho em conseguir realocar todos em viagens de operadoras parceiras. Ainda segundo a Shangri-lá, nos casos em que isso não for possível ou que tenham necessidade de ressarcimento serão resolvidos durante o processo de recuperação judicial ou autofalência.

Em nota oficial, a Braztoa lamenta a suspensão das atividades da Shangri-lá e informa que a diretoria da associação solicitou apoio a todos os associados para que, mediante disponibilidade, ofereçam condições especiais a passageiros da operadora que já haviam adquirido pacotes, minimizando prejuízos e garantindo as viagens.