Título: Haddad assume em SP com ampla base aliada
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 01/01/2013, País, p. 4

Petista deve contar com pelo menos 40 dos 55 vereadores paulistanos; ex-adversários fecharam apoio

Posição confortável. Fernando Haddad assume hoje administração da capital de São Paulo com o maior percentual de aliados na Câmara Municipal registrado pelos últimos prefeitos

quatro anos de desafios

SÃO PAULO Se teve dificuldade de receber apoio dentro de seu próprio partido no começo da campanha eleitoral, o prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), começa seu governo hoje com um amplo arco de alianças. O petista atraiu para a base do governo até partidos adversários na corrida municipal, como o PV, que apoiou o tucano José Serra, e o PTB, que apoiou Celso Russomanno (PR). Na Câmara, Haddad deve contar com o apoio de pelo menos 40 dos 55 vereadores. Mesmo o PSD, que não fará parte do primeiro escalão do governo, deverá apoiá-lo com seus oito vereadores, assim como o PR.

A costura dessa aliança balançou até o último minuto, com as ameaças do PV de deixar o futuro governo em razão da discordância quanto à inspeção veicular, que será remodelada por Haddad. Com isso, apesar da posse do novo secretário do Verde e do Meio Ambiente, Ricardo Teixeira, o PV terá um vereador de oposição entre os quatro do partido. Em seu quarto mandato, Gilberto Natalini promete tentar barrar as mudanças da inspeção veicular na Câmara sem fazer concessões ao novo prefeito. Ontem, os verdes garantiram participação no governo, mas com a liberdade de oposição de Natalini.

A coalizão da prefeitura reúne PT, PCdoB, com a vice-prefeitura e uma secretaria; PMDB, com três pastas; PSB, com duas secretarias; PP, PV e PTB, com uma cada; e partidos sem representação no primeiro escalão, como PHS, PR e PRB. Os petistas administrarão oito secretarias e devem ganhar hoje a presidência da Câmara, com o vereador José Américo Dias, um dos coordenadores da campanha de Haddad. Outras nove secretarias levam nomes considerados como "cota pessoal" de Haddad e indicações de setores da sociedade.

Desde o fim das eleições, o PT faz um forte movimento de aproximação com o prefeito Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD. O PSD deverá formalizar apoio na Câmara, com seus oito vereadores, mas, no princípio, provavelmente não participará do primeiro escalão do governo. Tão logo venceu a eleição, Haddad deixou as críticas de lado e fez elogios a Kassab. O movimento ajudou a esvaziar a bancada de oposição, que deve sofrer também certa debandada do DEM, já que seus dois vereadores se declararam independentes.

Nos cálculos do PT, que tem a maior bancada (11 vereadores), a oposição ficará por conta do PSDB, com nove vereadores, do PPS, com dois, e do PSOL, com um vereador. Os petistas dizem contar, ainda que ocasionalmente, com votos de apoio de Natalini (PV) e dos dois independentes do DEM, chegando a 43 parlamentares.

Essa ampla base de apoio é um cenário bastante diferente do enfrentado pela ex-prefeita e atual ministra da Cultura, Marta Suplicy, do PT, e mesmo por José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab no início de seus governos. Kassab e Serra tiveram de enfrentar uma bancada de oposição de até 26 parlamentares, e Marta só atingiu uma base de apoio de 40 vereadores no final de seu mandato.

- Do ponto de vista da governabilidade e da estabilidade política, o prefeito Fernando Haddad assume o cargo numa posição muito mais confortável. Na gestão Marta, só atingimos esse apoio no final do mandato - analisa o novo secretário de Relações Governamentais, o petista João Antônio, que foi líder do governo Marta nos anos 2003 e 2004.

Haddad teve Lula como principal defensor

Aposta pessoal do ex-presidente Lula, Fernando Haddad demorou a decolar na campanha e só recebeu grandes apoios dentro do próprio PT quando mostrou que tinha condições de ganhar a eleição. Com rodadas e rodadas de negociação com Lula, os prefeitáveis que queriam disputar as prévias petistas se renderam à candidatura de Haddad, como o futuro secretário de Transportes, Jilmar Tatto. Mas a ex-prefeita Marta Suplicy só apareceu ao lado de Haddad na reta final da campanha, depois de ser alçada ao cargo de ministra da Cultura.

Convidada a ser vice-prefeita na chapa petista, a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB) acabou declinando do convite ao se imaginar ao lado do deputado Paulo Maluf (PP) - que apoiou Haddad -, um de seus mais ferrenhos adversários e que responde a processos por crimes financeiros e contra a administração pública. A solução encontrada pelo PT foi cobrir a vaga com o PCdoB, aliado de sempre dos petistas.

A própria relação com Maluf foi um tanto desequilibrada. O deputado obrigou Haddad e Lula a pedir seu apoio em sua casa, com direito a fotos no jardim. A imagem atormentou os petistas durante toda a campanha, mas não impediu que o PP de Maluf ficasse com um dos cargos mais cobiçados pelos partidos, a Secretaria de Habitação. A nomeação irritou os movimentos de moradia, que ganharam de Haddad a promessa de que vão integrar os escalões da pasta.