Título: Serviços sem fôlego para crescer
Autor: Almieda, Cássia
Fonte: O Globo, 01/01/2013, Economia, p. 19

Motor da economia, setor precisa de mais produtividade para continuar em expansão

O setor de serviços, que vem empurrando a economia brasileira, corre o risco de ficar estagnado se a produtividade não crescer. A farta mão de obra mais barata que impulsionou o setor nos últimos anos está se esgotando. Para conseguir taxas de crescimento mais robustas daqui para frente, só se tornando mais eficiente, como mostra a Carta do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), editorial da revista "Conjuntura Econômica" de dezembro. Segundo Silvia Matos, uma das autoras da carta, lançada na última semana, a expansão média do setor de serviços entre 2004 e 2010 chegou a 4,5% e baixou para 2,4% entre 2010 e 2012.

O primeiro sinal dessa restrição imposta pela baixa produtividade foi a estagnação nos serviços mostrada na divulgação do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) do terceiro trimestre.

O setor, que tem peso de 67,3% no PIB, contrariou todas as expectativas e não cresceu no terceiro trimestre, levando o PIB a crescer só 0,6%, contra uma previsão de 1,2%.

Pelos cálculos do Ibre, a produtividade do setor de serviços ficou também estagnada, contribuindo com apenas 0,1 ponto percentual do crescimento dos serviços nos quatro trimestres encerrados em setembro - o pior resultado desde setembro de 2009 quando, no acumulado de 12 meses, houve queda de produtividade, que "roubou" 0,1 ponto percentual do crescimento dos serviços no período.

setor deve crescer só 2,9% em 2013

Com a queda da taxa de desemprego, que hoje está ligeiramente abaixo de 5,5%, o ingresso de trabalhadores no mercado ajudou no crescimento do PIB do setor de serviços.

"Esse processo, porém, tem prazo para expirar. Em média, o ritmo de crescimento da oferta da mão de obra tenderá a corresponder à taxa de crescimento da população em idade ativa. Esta já está em 1,3%, e com tendência de queda. Isso significa que a oferta de trabalho, que já chegou a crescer perto de 4% ao ano em meados da década passada, tenderá a ter uma expansão muito menor, de pouco mais de 1%", diz o texto.

Silvia lembra que os grandes movimentos de melhora de eficiência que contribuíram para o crescimento do setor de serviços recentemente estão se esgotando. A intermediação financeira é um exemplo. O crédito, que já chegou a crescer 30%, agora está subindo a 16% ao ano, ainda alto, mas o boom do segmento já passou, lembra Silvia.

O processo maciço de formalização das empresas, com a simplificação para legalização de negócios e redução de encargos trabalhistas nos últimos anos, as chamadas reformas microeconômicas, diz Silvia, também já deu sua contribuição principal para alta da produtividade do setor de serviços:

- Estamos prevendo alta de apenas 1,5% para este ano e de 2,9% para 2013. Não vemos espaço para os serviços crescerem mais de 3%. Isso num cenário de recuperação econômica que esperamos para 2013.

A produtividade ganha espaço como motor do crescimento dos serviços no período de 2010 a 2012. Os ganhos de produtividade responderam por 32% do crescimento do setor, que foi de 2,4% no período. Entre 2004 e 2010, a produtividade respondeu por 27% do avanço dos serviços.

- Sabemos que os serviços são um setor de baixa produtividade. E a expansão vinda da absorção de mão de obra está ficando mais difícil. A sensação é que não há mais tanta margem de manobra, com a taxa de desemprego tão baixa (em novembro ficou em 4,9%) - afirma a economista do Ibre.

Para a economista, a solução é complexa. Aumentar a produtividade em serviços requer estratégias mais elaboradas. Na indústria, a modernização do parque é o caminho, nos serviços só aumento de automação não basta:

- É preciso fazer reformas e inovar para dar saltos de produtividade.

Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo, diz que há sim essa baixa produtividade e dificuldade para encontrar oferta de trabalho qualificada. Porém, ele ainda vê espaço para crescimento vindo de mais trabalhadores no setor:

- Além disso, o governo e empresários têm feito um esforço de qualificação que deve dar resultados mais rápidos para a produtividade. E a demanda continua empurrando o setor. A massa salarial está crescendo 5% este ano e deve crescer entre 3% e 4% em 2013, o que é um número muito bom. Se o boom do crédito já passou, o da alimentação fora de casa só está começando. Ainda tem muito espaço para crescer.

Produtividade cai na indústria

Na indústria, o cenário se mantém igual desde junho, ou seja, ruim, quando se olha os números de produtividade da mão de obra. De janeiro a outubro, o indicador de eficiência caiu 1,5%, depois de já ter ficado menor em 0,7% em 2011, segundo estudo inédito feito para O GLOBO pelo economista Silvio Sales, com base nos dados da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), do IBGE.

Com a produção industrial caindo - a projeção do Relatório Focus do Banco Central (BC), com mais de cem instituições financeiras, é de queda de 2,31% este ano - e o emprego no setor recuando menos, 1,4% até outubro, a produtividade cai.

Concorrendo por mão de obra, a indústria precisa manter os salários em alta para não perder pessoal qualificado. A folha real de salário já subiu 3,16% no ano. Na extrativa-mineral, enquanto o emprego subiu 3,9%, o rendimento aumentou 8,5%, já calculada aí a alta menor da folha do setor que, segundo Sales, deve ter sido provocada pela queda de rentabilidade das empresas, como a Petrobras, afetando a participação nos lucros e resultados. Até junho, os salários dessa parcela da indústria cresciam 14,3%.

- Há uma clara pressão de custos com mão de obra. A folha vem crescendo acima do emprego e da produção.

Nos serviços, o economista acredita que haverá expansão no quarto trimestre. A sondagem, calculada por ele, divulgada na última sexta-feira mostrou otimismo maior dos empresários.