Título: Professor relata constrangimento na França
Autor: Castro, Juliana
Fonte: O Globo, 31/12/2012, País, p. 4

Convidado para dar curso , Salis foi acusado de usar cédulas falsas e se diz vítima de preconceito

Professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e artista plástico, Fernando Salis ficou traumatizado com sua última viagem à França, onde deu um curso de duas semanas em Chalonsur-Saône, a 341km de Paris, convidado pela École Media Arts Fructidor . No último dia de sua estada no país, em 9 de dezembro, resolveu fazer compras numa grande loja da capital francesa e foi acusado de repassar uma nota falsa de 50 euros. — Estava com notas novas que vieram do banco e fui gastar para deixar os euros lá, já que estava voltando. Quando fui comprar um HD externo, no valor de 95 euros, para copiar meus trabalhos, a menina do caixa virou de costas, deu uma enrolada. Ela falou: “Essa nota aqui é falsa ”. Eu disse que, se estava com uma nota falsa, recebi naquele local porque só fizera compra ali. Chegaram dois seguranças, e eu disse para irmos nas outras caixas — contou. Salis disse que uma das atendentes negou ter repassado a nota, o que, segundo ele, é mentira. O professor afirma ter sido levado por seguranças para uma sala, e que a confusão na loja durou aproximadamente uma hora, até a chegada da polícia. — Vieram três policiais, perguntando onde estava a nota falsa, por que eu tinha feito compras com nota falsa. Eu disse que era uma vítima, e começaram a ser grosseiros, no sentido de que me trataram como marginal, não quiseram ouvir quem eu era, o que estava fazendo.

Mostraram a algema e disseram que, se ficasse calmo , ficaria sem algemas. Foi uma vergonha horrorosa. Todo mundo olhando para mim porque me colocaram no carro e acionaram a sirene — relatou. Salis diz ter sido revistado na delegacia da Bastilha, e que sua identidade brasileira ficou com a polícia. Quando o delegado chegou, após 45 minutos, disse para ele ficar tranquilo porque daria tempo de pegar o voo para o Brasil. O professor contou que, a partir desse momento, o tratamento mudou. A essa altura, segundo ele, um agente já havia ligado para o professor que o hospedara em Paris, e a polícia havia pesquisado seu nome na internet. Salis prestou depoimento, assinou a transcrição de suas declarações, mas disse que não obteve a cópia porque a polícia alegou que as leis francesas não permitiam. Ainda de acordo com o professor , as notas fiscais não foram devolvidas. Segundo Salis , houve preconceito pelo fato de ele ser estrangeiro. Ele disse que foi impedido de ligar para alguém e avisar o que acontecia. Ao voltar ao Brasil, com o apoio da UFRJ, acionou o Itamaraty para assegurar que o episódio não lhe trará qualquer consequência jurídica. Salis espera ainda uma retratação das autoridades francesas.