Título: Conflitos de 2013
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 31/12/2012, Colunas, p. 20
Mercado para bens não duráveis e serviços está razoavelmente garantido. A dúvida é se haverá investimentos
Objetivos de política econômica são contraditórios por definição. Em economia sempre falta alguma coisa. No paraíso terrestre certa-mente não havia necessidade de economistas, pois tudo lá era abundante, e para qualquer demanda haveria oferta em condições de satisfazê-la. No mundo real nada se passa assim. Demanda e oferta nem sempre estão na mesma trajetória. Depois de um ano morno, a economia brasileira precisará crescer mais em 2013 para ajudar o país a resolver seus maiores problemas. Pelo lado da demanda, 2013 começará com o reforço do aumento do salário mínimo, que é praticamente todo canalizado para o consumo de bens não duráveis (aqueles que são adquiridos nos supermercados e nas feiras, por exemplo) ou para serviços.
Estes, por sua vez, absorvem mais mão de obra, o que deve assegurar aumentos reais para as faixas salariais mais baixas, próximas ao mínimo. Se a oferta de alimentos, bebidas, produtos de higiene, limpeza e dos próprios serviços não acompanhar tal demanda, a inflação dará sinal de vida. Por isso, existe hoje tanta angústia em relação ao comportamento dos investimentos. Não se sabe ao certo o quanto de capacidade ociosa existe no sistema produtivo. É grande na siderurgia ou em alguns segmentos da indústria de máquinas e equipamentos, mas não há ociosidade nos aeroportos e nas principais rodovias. Nos portos, os problemas estão mais nos acessos, na profundidade do cais. Embora muita gente discorde, especialmente no mercado financeiro, taxas de juros mais baixas neste momento são benéficas porque favorecem os investimentos, o nó górdio da economia. De nada adiantaria segurar muito a demanda sem que haja reação na capacidade de produção. Seria apenas jogar para a frente a saída. Empresas só investem se conseguem acumular capital, obtendo bons lucros.
A situação no presente pode não ser boa, mas se os empresários visualizam um futuro mais promissor , animam-se. Se a demanda dá demonstração de que segue firme, isso funciona como a cenoura que atrai o investidor . Claro que não é a cenoura apenas o que define o investimento. O ano de 2013 promete ser mais animado do que este que este que se apaga. Ao menos não estamos mais diante de nenhuma ameaça do calendário maia... Feliz Ano Novo a todos! _
Batatinha frita, 1,2,3
O consumo médio de batatas no Brasil é de 1,5 quilo por habitante. Pouco, se comparado aos 30 e tantos quilos consumidos por americanos e europeus. Uma das razões desse baixo consumo é que, diferente-mente do que previra Pero Vaz de Caminha, nem tudo que se planta por aqui, dá. Enquanto na Bélgica, por exemplo, a produtividade supera 50 toneladas por hectare, no Brasil, quando passa de 15 o produtor comemora. Devido a um esforço de pesquisa, já há algumas microrregiões, como a de Araxá, entre o Triângulo e o Sul de Minas, em que essa proporção passa de 40 toneladas, e com boa qualidade, a ponto de substituir importações originadas da Argentina. Abatata in natura não dura muito. E sai caro transportá-la para o interior do Centro-Oeste ou da Amazônia.
Daí que, em algumas cidades como Marabá ou mesmo Cuiabá, vem crescendo fortemente o mercado de batatas processadas, aquelas vendidas congeladas, de vários tipos, que passam antes por uma ligeira fritura. Esse mercado de batatas processadas já atinge o volume de 300 mil toneladas anuais, dos quais um terço é produzido no Brasil, e o restante é importado. Os europeus, em especial os belgas, estão cada vez mais atentos a esses consumidores. A Lutosa, por exemplo, tem planos para dobrar suas vendas, atualmente de 16 mil toneladas, no Brasil. _
Pronta para funcionar
A novela que envolve a hidrelétrica de Simplício, no Rio Paraíba do Sul, num trecho que divide Rio de Janeiro e Minas Gerais, talvez esteja próxima do fim. Agora em janeiro estarão concluídas as ligações que levarão para a estação de tratamento o esgoto das casas que margeiam o rio no município de Sapucaia, uma das objeções que o ministério público fazia ao enchimento da barragem. Depois de muita briga judicial será feita também a interligação das linhas de transmissão que conduzirão a eletricidade gerada na usina. Mesmo assim, Furnas não está livre de alguma outra ação judicial de embargo, pois já surgiu quem ponha em dúvida a segurança da barragem. Enquanto isso, Furnas é obrigada a pagar multa à Aneel, a agência reguladora, por descumprimento de prazo, e ainda tem de comprar energia de terceiros para honrar contratos com seus clientes.