Título: BC agora prevê que país vai crescer só 1% este ano
Autor: Valente, Gabriela; Bonfanti, Cristiane
Fonte: O Globo, 21/12/2012, Economia, p. 41

Autoridade monetária estima ainda que inflação deverá ficar acima do centro da meta, de 4,5%, até 2014

BRASÍLIA O Banco Central (BC) oficializou ontem a frustração com o crescimento da economia, ao diminuir a previsão para o ano de 1,6% para apenas 1%. É a mesma perspectiva do mercado financeiro - coisa rara de acontecer. No último relatório trimestral da autarquia no ano, foi traçado um cenário que aponta inflação acima do centro da meta de 4,5% até 2014. Prevê também uma maior estabilidade do câmbio e dos juros no ano que vem.

O BC mudou a diretriz e não estimou o crescimento para o próximo ano. Estimou só os próximos três trimestres. E a expectativa é que o Brasil esteja com velocidade de crescimento de 3,3% em setembro, abaixo do "Pibão grandão" desejado pela presidente Dilma Rousseff para 2013.

- É um ritmo que se acomoda confortavelmente dentro do potencial da economia brasileira - garantiu o diretor do departamento de Política Econômica, Carlos Hamilton de Araújo. - Não seria uma taxa para gerar desequilíbrios (ou seja, aumentar a inflação).

Já o Ministério da Fazenda espera expansão de 4% em 2013, no que os analistas do mercado não acreditam.

- O número do BC é mais realista, mas ainda acho que vai ser ajustado para baixo no ano que vem - disse Inês Felipa, economista-chefe da Icap.

A previsão do BC para a inflação este ano subiu de 5,2% para 5,7%. É mais pessimista que a aposta do mercado (5,6%). Para 2013, caiu de 4,9% para 4,8%, acima da meta. E em 2014, a previsão é de 4,9%. Mesmo assim, Carlos Hamilton acha possível alcançar a meta no ano que vem.

- Se a inflação não atingirá o centro da meta em 2014, só teremos a resposta em janeiro de 2015. Entendemos que a inflação vai recuar sim no próximo ano. Entendemos que é um cenário factível a inflação em 4,5% no ano que vem.

Para o economista-chefe da corretora Planner, Eduardo Velho, o BC foi realista e confirmou que tolera uma inflação mais alta, pelo menos, até 5,5%. Pode até haver mais queda dos juros em 2013, diz. Para ele,o governo compensará a alta da gasolina com mais corte de imposto. Mas Carlos Hamilton foi categórico sobre a possível tolerância do BC com a inflação maior:

- Não. A resposta é não.

Arrecadação federal sobe

Após cinco quedas consecutivas, a arrecadação de impostos e contribuições federais subiu pela primeira vez e fechou em R$ 83,70 bilhões em novembro. Trata-se de um aumento real de 0,45% frente a igual mês de 2011. De janeiro a novembro, a arrecadação somou R$ 926,01 bilhões, alta de 0,68%.

A secretária-adjunta da Receita Federal, Zayda Manatta, manteve a previsão de avanço da arrecadação de 1% acima da inflação no fechamento do ano. Em 2011, o aumento real foi de 10,1%. Ela acredita que os dados tendem a ser melhores, não apenas em dezembro, mas também ao longo de 2013.

- A expectativa é que as medidas do governo surtam efeito e haja uma recuperação da atividade positiva e, portanto, da arrecadação. Temos ao lado disso desonerações que impactam no sentido inverso. A expectativa é que o conjunto seja positivo no fim do ano.

A especialista observou ainda que os indicadores mais recentes indicam início de uma recuperação, por exemplo, da produção industrial. Em novembro, uma das principais quedas ocorreu na arrecadação do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). O recolhimento foi de R$ 3,99 bilhões, ante R$ 4,13 bilhões no mesmo mês do ano passado - queda real de 8,49%.

A maior variação foi registrada no setor de automóveis, que teve o benefício da redução da alíquota prorrogado anteontem. A arrecadação caiu de R$ 470 milhões para R$ 306 milhões, recuo de 38,40%, já descontada a inflação.