Título: Lula sobre os sem-terra: vandalismo
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 10/10/2009, Política, p. 7

Presidente critica destruição de pomares por integrantes do MST em fazenda paulista. Movimento suspeita de infiltrados

Pichação em sede da fazenda da Cutrale. Em nota, MST também condenou a depredação

São Paulo ¿ Doze dias depois de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) serem filmados derrubando pomares na Fazenda Santo Henrique(1), no interior de São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou a ação da entidade. Segundo levantamento da Polícia Civil, os sem-terra destruíram 7 mil pés de laranjas usando tratores. ¿Obviamente, não podemos concordar com aquilo¿, comentou Lula.

O presidente se disse defensor das lutas sociais, mas classificou as cenas veiculadas pela TV como ¿vandalismo¿. Para Lula, não há justificativa num episódio como aquele. ¿Todo mundo já aprendeu que neste país existe lei, Constituição. Se estiver dentro da lei, pode. Se não, vai pagar o preço¿, ressaltou.

Depois que Lula se manifestou, o MST soltou nota oficial atribuindo os atos de destruição de maquinário flagrados pela Polícia de São Paulo na Fazenda Santo Henrique a pessoas infiltradas no movimento. O comunicado diz que os ¿inimigos dos sem-terra¿ estariam na invasão com o objetivo de criminalizar as ações da entidade. ¿Sabemos que a violência é a arma utilizada sempre pelos opressores para manter privilégios. Temos o maior respeito às famílias dos trabalhadores das grandes fazendas quando fazemos ocupações¿, diz a nota.

No mesmo comunicado, o MST critica o episódio filmado. ¿Lamentamos quando ocorrem desvios de conduta em ocupações, que não representam a linha do movimento. Em geral, eles têm ocorrido por causa da infiltração de inimigos da reforma agrária¿. Ainda na nota, o movimento diz que não houve depredação nem furto por parte das famílias que ocuparam a fazenda da Cutrale. ¿Quando as famílias saíram, não havia ambiente de depredações, como foi apresentado na mídia¿, garante o movimento.

Investigação Uma equipe de peritos da Polícia Civil passou o dia fazendo um inventário dos prejuízos na propriedade. Segundo Pedro Kairvz, advogado da Cutrale, os sem-terra desperdiçaram 15 mil toneladas de adubos químicos e destruíram 28 tratores. As máquinas começaram a ser consertadas e pelo menos cinco já estavam em operação. ¿Os funcionários pintaram a sede da fazenda também¿, disse o advogado. Kairvz disse que, além do rastro de destruição, os sem-terra deixaram várias garrafas de cachaça, uísque e latas de cervejas pela fazenda.

O delegado Jader Biazon, que comanda o inquérito para apurar o crime, ouviu ontem 24 funcionários da fazenda. Ele pretende pedir a prisão preventiva dos sete acusados depois que as investigações forem concluídas.

Apesar de os sete indiciados serem pessoas humildes, a empresa Cutrale decidiu que vai processá-los para que paguem pela destruição. Segundo os advogados da empresa, o correto seria processar o MST, mas como a entidade não tem personalidade jurídica, a saída será processar quem acatou as ordens do movimento.

1- Propriedade contestada Dois procuradores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estiveram ontem na 1ª Vara da Justiça Federal de Ourinhos para ver como está o processo que tenta devolver à União a Fazenda Santo Henrique. O processo tramita desde agosto de 2006. Segundo o órgão federal, a fazenda tem 2,6 mil hectares e faz parte do Grupo Colonial Monção, comprado pela União em 1909 para projeto de colonização. Os advogados da Cutrale disseram que já deram ao Incra e à Justiça documentos que provariam que eles seriam donos do terreno. Para eles, a prova maior está no fato de que a Justiça reintegrou a posse quando houve invasão dos sem-terra.