Título: Efeito estatístico apoia previsão de Mantega
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 27/12/2012, Economia, p. 22

O criticado otimismo do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em relação ao crescimento da economia brasileira para 2013 está baseado em um dado produzido pela sua assessoria. Pelas contas dos técnicos do ministério, às quais O GLOBO teve acesso, mesmo se a economia não se expandir nos quatro trimestres do ano, o Brasil já terá garantido um crescimento de pelo menos 1,3%.

É o que os economistas chamam de "efeito carregamento", ou seja, a recuperação da atividade no último trimestre deste ano fará o país crescer por inércia no ano que vem. Essas previsões estimularam Mantega a prever 4% de crescimento, bem acima das estimativas do mercado.

"isso não vai acontecer"

O efeito estatístico para 2013 foi calculado com base na estimativa de que o país crescerá 1,25% neste último trimestre de 2012, na comparação com os três meses imediatamente anteriores. Isso porque a economia enfim estaria respondendo aos pacotes de estímulo à atividade lançados neste ano. Assim, levará uma "herança bendita" para o ano que vem.

- Isso não vai acontecer. Não me parece razoável, mas é de se esperar um número desse da atual administração econômica do país - avaliou o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito.

O analista engrossa o coro dos críticos que acham que as previsões da Fazenda continuam descoladas da realidade e prestam um desserviço ao país porque não ajudam os agentes econômicos a fazer projeções. Nas contas de Perfeito, a economia deve, sim, retomar o crescimento e mostrar uma aceleração no último trimestre. No entanto, não será como a Fazenda projeta. Para ele, o crescimento deve ser de 0,8%. Isso seria suficiente para fazer o Brasil crescer 0,95% no ano que vem, um efeito de carregamento bem menor do que o projetado pela Fazenda.

Neste ano, as divergências entre as previsões da Fazenda e do mercado financeiro foram gritantes. No início do ano, falava-se em crescimento de 4,5%. A cada queda na projeção, a Fazenda lançava medidas para estimular consumo, investimento e a confiança dos empresários.

diálogo truncado

Em meados do ano, surgiu a primeira estimativa que o Brasil cresceria apenas 1,5%. De forma nada usual, Mantega rebateu a projeção feita por apenas uma instituição. Classificou a expectativa como "piada". No entanto, as previsões dos analistas continuaram a cair. A cada semana, uma pesquisa feita pelo Banco Central mostrava que o número era rebaixado. Hoje, é de 1% de crescimento em 2012 e 3,3% no ano que vem.

- O diálogo entre governo e mercado está cada vez mais truncado e nebuloso - avalia Perfeito.