Título: De olho no petróleo alheio
Autor: Rosa, Bruno; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 30/12/2012, Economia, p. 23

Enquanto a Petrobras reduz investimentos no exterior, vendendo ativos para reforçar seu caixa e concentrar recursos no pré-sal, outras petrolíferas privadas brasileiras fazem o caminho inverso, em busca de novas oportunidades de negócios na América Latina, na África e até na Ásia. Fazem parte da lista a OGX, do bilionário Eike Batista, a Petra, a HRT e a PetroRecôncavo. Segundo especialistas, para essas companhias, a ida ao exterior não é apenas uma política estratégica de expansão de negócios. Em muitos casos, é questão de sobrevivência, diante da falta de oferta de novas áreas no Brasil para exploração. Desde 2008, com a descoberta do pré-sal e as mudanças que estão sendo implementadas na regulação do setor, não há novas licitações de blocos de petróleo no país.

- Ir para o exterior é uma questão de sobrevivência para uma companhia de petróleo brasileira de porte médio, num momento em que não há leilões nem ofertas de novas áreas de campos maduros (antigos). Ou se vai para o exterior, apesar de preferirmos o Brasil, ou muitas empresas têm que mudar de atividade para sobreviver - explica Marcelo Magalhães, vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo (ABPIP)

Segundo o especialista em petróleo Claudio Pinho, não há dúvidas de que a busca de oportunidades no exterior por empresas brasileiras está relacionada, principalmente, à falta de leilões no Brasil:

- No momento em que as rodadas ficaram paradas por causa das discussões sobre a distribuição de royalties, descobriu-se o pré-sal na África, e muitas empresas passaram a investir lá. Eram recursos que poderiam ter sido investidos no Brasil.

Um exemplo é a carioca HRT, que tem 55% de participação em 21 blocos na Bacia do Solimões, no Amazonas, e em três blocos terrestres na Bahia, no Espírito Santo e na Paraíba. Em 2010, a companhia decidiu se voltar para o exterior e adquiriu 12 blocos offshore (no mar) na Namíbia, em busca de novas oportunidades, principalmente na costa oeste da África, considerada muito promissora por ser similar à área brasileira onde há o pré-sal.

hrt investirá US$ 320 milhões no exterior

O diretor-presidente da HRT O&G, Milton Franke, explica que a ida da companhia para a costa africana foi uma opção estudada por anos. Com o início da perfuração de poços na Namíbia, em 2013 a companhia vai investir R$ 713 milhões, dos quais R$ 320 milhões no exterior.

- Fomos em busca de ativos offshore e na margem do Atlântico Sul, onde a empresa possui seu principal foco histórico de estudos e conhecimentos geológicos e geofísicos. Desde a década de 80, técnicos da HRT realizam estudos que comprovaram a analogia entre os sistemas petrolíferos offshore da margem continental da África e da América do Sul, incluindo as áreas do denominado subsal (área de formação similar à do pré-sal brasileiro) - explica Franke. - A aquisição de blocos na costa namibiana foi uma decisão estratégica, baseada no potencial desta nova fronteira exploratória e nas semelhanças com bacias sedimentares da margem brasileira.

Nos nove primeiros meses de 2012, a HRT investiu R$ 838 milhões, sendo R$ 680 milhões no Brasil e R$ 158 milhões no exterior. Em 2011, foram R$ 1,3 bilhão no Brasil e R$ 93 milhões no exterior. Apesar da investida na África, Franke destaca que, além de continuar com o desenvolvimento exploratório nos blocos que possui no Solimões, a HRT tem interesse em aumentar seus investimentos no Brasil. Segundo o executivo, a companhia está confiante na realização da 11ª rodada de licitações, prevista para maio.

A Petra, que explora gás na Bacia de São Francisco, já estuda oportunidades em 12 países da África e seis da Ásia. O objetivo, segundo a companhia, é investir em áreas ainda não descobertas. Na África, a meta é explorar apenas petróleo. Uma área de interesse é o Sul do Saara. A companhia, que já comprou uma área no continente e está realizando estudos sísmicos, discute ainda uma segunda aquisição.

- A gente vai sozinho, pega áreas de fronteira nas quais ninguém acredita por um preço não muito alto, mas nas quais nossos geólogos acreditam que possa ter algo - disse o presidente da Petra Energia, Winston Fritsch, em evento recente no Rio.

Na Ásia, a ideia é participar de blocos com petróleo e gás natural. Um dos países de interesse é o Afeganistão. A Petra foi uma das empresas selecionadas pelo governo a participar da disputa de seis blocos da Bacia do Afeganistão e do Tajiquistão.

Acesso a novas tecnologias

Para analistas, as empresas com ativos no exterior conseguem atrair mais investimentos, ao montar um portfólio variado. Além disso, têm acesso a novas tecnologias e aumentam o relacionamento com empresas internacionais.

A OGX tem áreas na Colômbia, com quatro blocos na bacia Cesar-Ranchería. Além disso, levou em 2012 mais um bloco na Bacia do Vale Inferior do Madalena. A área total soma 12.400 quilômetros quadrados. A companhia acaba de investir em sísmica no país e pretende furar o primeiro poço já em 2013. Para isso, vai investir US$ 1,2 bilhão nas atividades de exploração e desenvolvimento na Colômbia e no Brasil em 2013. Por aqui, produz 10 mil barris por dia.

Magalhães, da ABPIP e que também é presidente da PetroRecôncavo, que atua na Bahia e produz 5,5 mil barris por dia, diz que a companhia está fazendo sua primeira investida no exterior. A empresa estuda participar de licitação em campos maduros no Peru.

- Gostaria de investir aqui e não no exterior. Queremos continuar investindo no país, gerando riqueza, emprego aqui. E a exploração em pequenos poços terrestres é muito importante para melhorar a economia local, pois esses blocos estão, em geral, em regiões muito pobres no interior - afirma.

Para atuar, as pequenas e médias petrolíferas brasileiras precisam de concessões em campos maduros, segundo Magalhães. Ele lembra que a Petrobras não quer ceder parte de seus campos terrestres, situados principalmente no Nordeste, onde a estatal produz cerca de 180 mil barris diários. Para ele, a estatal poderia se desfazer de parte dos campos menos econômicos, que somam 20 mil barris diários, e que, ao serem explorados por pequenos produtores, poderiam ver esse volume duplicar em três a quatro anos:

- Nos últimos 12 anos, a produção de petróleo na Bacia do Recôncavo, na Bahia, caiu 1% ao ano, enquanto a produção na mesma área da PetroRecôncavo aumentou 3,9%.