Título: Nos bastidores, EUA se reaproximam
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Fonte: O Globo, 03/01/2013, Mundo, p. 25

A turbulenta relação entre o governo de Hugo Chávez e os Estados Unidos pode mudar de figura caso o presidente venezuelano se veja obrigado a deixar o poder. Segundo Andrés Oppenheimer, colunista do jornal "El Nuevo Herald", de Miami, a diplomacia de Washington entrou em contato com o vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, já com a intenção de se preparar para tempos pós-Chávez, inclusive com a retomada da troca de embaixadores. E ontem, o Departamento de Estado pediu que uma eventual transição em Caracas ocorra de forma "constitucional", com eleições "transparentes e democráticas".

De acordo com Oppenheimer, a conversa ocorreu no dia 21 de novembro e foi confirmada pela secretária assistente para o Hemisfério Ocidental, Roberta Jacobson, no mês passado. Incentivada pela secretária de Estado, Hillary Clinton, Roberta procurou Maduro, segundo Oppenheimer. Por outro lado, partiu do vice venezuelano, segundo fontes do governo americano citadas pelo colunista, a ideia de avançar rumo à troca de embaixadores, aproveitando o início do segundo mandato do presidente americano, Barack Obama, este mês. A secretária assistente teria então sugerido que tal medida fosse atingida depois de uma retomada gradual da profundidade nas relações diplomáticas. Segundo Oppenheimer, o primeiro passo desejado pelos Estados Unidos é a aceitação pela Venezuela de uma visita de integrantes da DEA, a agência antidrogas americana, para que seja elaborado um plano de cooperação no combate ao narcotráfico.

- Julgaremos nossa capacidade de melhorar a relação com a Venezuela com base nos passos que eles puderem adotar - disse ontem Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de Estado americano.

As tensões entre os dois países ocorrem há pelo menos uma década. Em 2002, quando um golpe de Estado tentou derrubar Chávez, o presidente venezuelano acusou os EUA de estarem por trás. Medidas concretas vieram em 2008, quando Caracas expulsou o embaixador Patrick Duddy, sob a acusação de que o diplomata estaria participando de uma conspiração contra o governo chavista. Em retaliação, Washington expulsou o embaixador venezuelano Bernardo Álvarez Herrera, que chegou a ser reaceito no posto pelo governo americano, mas depois teve o visto revogado em 2010, quando a Venezuela rejeitou a nomeação de Larry Palmer para o posto em Caracas. Os dois países, porém, mantêm suas respectivas embaixadas, lideradas por encarregados de negócios.