Título: Em busca da verdade
Autor:
Fonte: O Globo, 03/01/2013, Mundo, p. 25

Oposição cobra detalhes sobre Chávez; ministro diz que quadro é "estável e delicado"

Caracas e havana Um dia depois de o vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, garantir em entrevista à emissora Telesur que o governo do país está sendo verdadeiro ao informar sobre o estado de saúde do presidente Hugo Chávez, a oposição cobrou ontem de forma incisiva a divulgação de detalhes sobre a real situação do mandatário, três semanas após sua internação em Havana para a quarta cirurgia desde o diagnóstico de câncer em junho de 2011. À noite, da capital cubana, o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Jorge Arreaza, usou o Twitter para dizer que a condição de Chávez "segue estável dentro de seu quadro delicado" e informar que Adán Chávez, irmão do presidente e governador do estado de Barinas, chegou a Havana ontem.

Mais cedo, em Caracas, o pedido da oposição por transparência veio acompanhado de um chamado ao respeito à Constituição da Venezuela, que prevê a ascensão temporária do presidente da Assembleia Nacional caso o presidente não esteja em condições de assumir seu quarto mandato no próximo dia 10.

- Caso o presidente eleito não possa comparecer à juramentação por motivos relacionados com sua doença, deve-se assumir o estabelecido na Constituição em relação a faltas temporárias. Fazer o país acreditar que o presidente está governando é uma falta de seriedade que chega a níveis de irresponsabilidade. Abusa-se de sua pessoa, de seu nome, assim como de todos os venezuelanos - afirmou o secretário-executivo da coalizão de oposição Mesa de Unidade Democrática, Ramón Guillermo Aveledo, lembrando que daqui a dois dias a Assembleia Nacional, dominada pelo chavismo, escolherá um novo presidente.

Aveledo também criticou duramente a falta de informações detalhadas sobre o estado de saúde de Chávez e avaliou que o PSUV, a legenda governista, fez uso eleitoral da situação do presidente nas eleições regionais do dia 16. A oposição, que governava sete dos 23 estados venezuelanos, manteve o poder em apenas três.

- Em entrevista à Telesur, o vice-presidente prometeu dizer "a verdade, seja qual for". Pois deve começar por dizer exatamente qual é a situação atual. A informação continua sendo insuficiente. O segredo é a fonte dos rumores que fazem aumentar a incerteza e causam angústia. É óbvio o contraste entre o interesse em manter o tema na opinião pública nos dias anteriores à eleição para governadores e o silêncio de agora.

O chavismo reagiu ao discurso de Aveledo através de Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional, via Twitter. "Informação para os chefes da oposição venezuelana, os chavistas sabemos muito claramente o que faremos, ocupem-se do que vocês fariam", postou. Fora da Venezuela, o presidente boliviano, Evo Morales, aliado de Chávez, disse que o estado do colega é "muito preocupante", mas manifestou esperança em sua recuperação.

presidente está em coma induzido, diz jornal

O protesto da oposição veio no mesmo dia em que surgiram novas versões não oficiais sobre o estado de saúde de Chávez. Segundo fontes com acesso à equipe médica do presidente ouvidas pelo jornal espanhol "ABC", o líder bolivariano está em coma induzido e se estuda o desligamento dos aparelhos que garantem sua sobrevida. Na operação do dia 11 passado - desde então Chávez não aparece ou fala publicamente, mas comunicados oficiais em seu nome continuam a ser divulgados -, foram extraídos 43,4 centímetros de seu intestino delgado, tornando necessário o uso de uma bolsa de colostomia, diz a publicação. O quadro ainda englobaria febre constante, perda de consciência, insuficiência renal, necessidade de respiração por aparelhos, além da detecção de células cancerígenas no intestino e na bexiga. A cirurgia, realizada por médicos russos e cubanos, também teria levado à descoberta de que a metástase chegou à medula. Em condições normais, poderia haver um transplante, mas a deterioração do estado de Chávez teria impedido tal medida.

Já o médico venezuelano José Rafael Marquina, radicado em Miami e conhecido por seus frequentes comentários sobre o estado de Chávez, disse à rádio colombiana Caracol que a situação do presidente venezuelano é "muito delicada", com chances de 5% de sobrevivência. Segundo ele, que não cita suas fontes, "em questão de um ou dois meses, o câncer vai invadir todo o seu corpo". Marquina afirmou que a família reluta em desligar os aparelhos, apesar de saber que o estado de Chávez é terminal.

No duelo de versões, o governo venezuelano continua botando panos quentes. Ainda em Havana, de onde deve voltar a Caracas hoje, Nicolás Maduro disse à Telesur que conversou com Chávez e atacou a oposição:

- Ele está consciente da complexidade do estado pós-operatório. Quem não tem respeito, não tem limites, é capaz de inventar, manipular e criar situações de confusão, de mentira, porque fazem piada da situação delicada que vivemos. A alma da direita é uma alma miserável.