Título: Tesouro reforça capital da Caixa com ações de frigorífico
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 05/01/2013, Economia, p. 24
No apagar das luzes de 2012, o Tesouro Nacional usou um grande lote de ações do JBS, que pertenciam ao BNDES, para capitalizar a Caixa Econômica Federal (CEF). As duas instituições financeiras federais tiveram, no fim do ano, de antecipar dividendos para o governo cumprir sua meta de superávit fiscal.
Em 28 de dezembro, último dia útil de 2012, a BNDESpar vendeu ao Tesouro 296,3 milhões de ações da JBS, ou o equivalente a 10% do capital acionário da empresa, que é a maior produtora de carnes do mundo. Ao valor das ações daquele dia (R$ 6), a transação teria rendido ao BNDES quase R$ 1,8 bilhão. Em compensação, a participação direta do banco de fomento na JBS caiu de 29,9%, para 19,9%. Se considerados outros 3,14%, que pertencem ao seu Fundo de Investimentos em Participações(PROT), a fatia do BNDES agora chega a 23%.
O Tesouro, por sua vez, repassou à Caixa Econômica Federal (CEF) as mesmas 296,3 milhões de ações da JBS. Essa triangulação com os papéis da fabricante de alimentos tornou-se pública apenas ontem porque a JBS divulgou fato relevante ao mercado - procedimento exigido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para operações que envolvam mais de 5% do capital de uma determinada empresa.
A JBS afirmou apenas "que essa alteração em sua estrutura acionária mantém uma base estratégica de investidores e não altera a composição de controle da companhia".
A Caixa confirmou, também por meio de nota, que em 31 de dezembro efetuou repasse de dividendos no valor de R$ 4,7 bilhões "ao seu controlador", o Tesouro Nacional. Em contrapartida, a Caixa informou que recebeu do Tesouro R$ 5,4 bilhões como aumento de capital, "mediante a transferência de ações de sociedades anônimas de capital aberto, que passaram a compor seu portfólio de títulos e valores mobiliários".
outras ações não reveladas
Questionada, a Caixa não informou que ações de outras companhias, além da JBS, foram transferidas pelo Tesouro. Ressaltou apenas que "não realizou de forma ativa nenhum investimento em participações acionárias", mas que "estas operações elevaram os limites seus operacionais (Basileia).
O Tesouro também não esclareceu que outras ações, além dos R$ 2 bilhões em papéis da JBS, foram transferidas à Caixa para totalizar o reforço de R$ 5,4 bi no capital da instituição. Nem a quem pertenciam esses papéis.
"Procurada pelo GLOBO, uma fonte ligada a uma instituição financeira federal questionou a operação.
- É bem provável que isso seja mais uma ponta, ainda desconhecida, do rolo que virou essa última manobra fiscal. E seria bom saber por que a Caixa precisa virar acionista do JBS - perguntou.
Já o professor de administração da Universidade de Brasília, José Matias-Pereira, afirmou que "é cedo para se fazer uma avaliação" da operação.