Título: Sem improvisos
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Fonte: O Globo, 05/01/2013, Mundo, p. 28

Na quarta-feira, o presidente da Assembleia Nacional (Congresso) da Venezuela, Diosdado Cabello, respondeu aos pedidos da oposição local por detalhes sobre o estado de saúde do presidente Hugo Chávez - internado em Havana desde o dia 11 de dezembro - escrevendo no Twitter: "os chavistas temos muito claro o que faremos". Depois que Cabello e o outro principal homem de confiança de Chávez, o vice-presidente Nicolás Maduro, se esforçaram para demonstrar união diante das câmeras da TV estatal anteontem, ganhou força a versão de que, como disse Cabello, os comandados do líder bolivariano já sabem claramente como conduzirão uma aparentemente inevitável transição diante da gravidade da condição do mandatário, que trata de um câncer desde junho de 2011. Definido com a influência da alta cúpula do regime cubano, o chamado Pacto de Havana apresenta o que seria o planejamento do chavismo a partir do próximo dia 10, data prevista para a posse de Chávez no mandato para o qual foi eleito em outubro.

Mais que uma sequência de passos que não podem ser dados em falso, o pacto surge também como um acordo de governabilidade entre os dois homens fortes do chavismo e, por isso, tem como principal característica a criação de um governo no qual ambos, cada um a seu tempo, terão sua sede de poder saciada de modo a não causar um rompimento interno. Ou, como teria dito o presidente cubano, Raúl Castro, para "garantir a sucessão de Chávez em paz e sem traições", segundo o site oposicionista venezuelano La Patilla, liderado pelo jornalista Alberto Ravell, cofundador da emissora Globovisión.

O primeiro passo do pacto é a reeleição de Diosdado Cabello como presidente da Assembleia Nacional hoje, o que deve ocorrer sem dificuldades, já que o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) domina a Casa. Desta forma, caberá a Cabello assumir o governo depois que, no dia 10, seja declarada a ausência temporária de Chávez. A Assembleia ficaria a cargo da primeira vice-presidente, Blanca Eekhout, hoje a segunda vice-presidente e ligada a Maduro.

Com a ascensão de Cabello, seria então formado, segundo o La Patilla, um politburo no qual Maduro seria escolhido como vice-presidente. Também fariam parte do comitê os governadores dos estados de Barinas, Adán Chávez, irmão do presidente; de Trujillo, Henry Rangel Silva, ex-ministro da Defesa; e de Aragua, Tareck el-Aissami, ex-ministro da Justiça.

Primeiro, Cabello; depois, Maduro

A partir do dia 10, se Chávez não assumir, Cabello ganhará um período de três meses no poder, renováveis por mais três. Neste ínterim, caracterizada a ausência absoluta de Hugo Chávez, seriam convocadas novas eleições, quando então Maduro - publicamente designado por Chávez como seu candidato num eventual pleito - seria o nome do PSUV nas urnas.

O acordo em Havana teria sido costurado sob a tutela de Raúl Castro e do vice-presidente cubano, Ramiro Valdés. Além de Maduro e Cabello, participaram das reuniões em Cuba o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Jorge Arreaza, genro de Chávez; o ministro de Petróleo e Minas, Rafael Ramírez; a procuradora-geral da Venezuela, Cilia Flores, liderança do PSUV e mulher de Maduro; e Adán Chávez. Ontem, via Twitter, Cabello convocou a população a comparecer à Assembleia Nacional e afirmou que o Legislativo "seguirá ao lado do povo e de nosso comandante".

Em meio a mais uma maré de versões sobre uma transição na Venezuela, o ministro para a Comunicação e a Informação, Ernesto Villegas, divulgou na madrugada de ontem boletim médico no qual informava que Chávez sofre de insuficiência respiratória, complicação derivada de "uma severa infecção pulmonar". No mesmo comunicado, Villegas reiterou a confiança do governo na equipe médica que cuida do presidente e falou de uma "guerra psicológica" conduzida pela imprensa dentro e fora do país "com o fim último de desestabilizar a República Bolivariana da Venezuela".

Ontem, o jornal espanhol "ABC" voltou a noticiar, citando fontes que estariam em contato com a equipe médica de Chávez, uma nova complicação no estado de saúde do presidente venezuelano. Segundo a publicação, Chávez sofre agora com uma inflamação abdominal que poderia levar a uma nova cirurgia. Ao mesmo tempo, diz o "ABC", a sedação foi diminuída devido a uma leve melhora da infecção pulmonar. Anteontem, o vice Nicolás Maduro declarou que o jornal "falta com o respeito a Chávez e suas filhas diariamente ao publicar informações mal-intencionadas".