Título: Oposição frágil se articula em busca de candidato
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Fonte: O Globo, 05/01/2013, Mundo, p. 29
Os esforços da oposição para corrigir uma desunião vista como crônica por analistas levaram, em 2011, à criação da aliança multipartidária Mesa da Unidade Democrática (MUD). Mas, após a derrota de Henrique Capriles nas eleições presidenciais de 7 de outubro na Venezuela e de reveses significativos nas regionais, em 16 de dezembro, procura-se um candidato opositor para desafiar o chavismo. Seja qual for o desfecho do câncer do qual padece o presidente Hugo Chávez - a morte ou a aposentadoria por invalidez, imediatamente ou daqui a alguns meses - uma oposição fragilizada se articula para sair da impotência e do mero papel de espectadora das discussões que ocorrem em Havana.
CAPRILES, REELEITO, MANTÉM SILÊNCIO
As tarefas da oposição são muitas. Além de manter os apelos pelo diálogo nacional, os integrantes da MUD enfrentam a ameaça de disputas internas capazes de minar uma união criada a duras penas; passam por uma reavaliação interna sobre as causas da derrota eleitoral e, exigem, ainda, mais informações sobre o estado de Chávez.
- Ele está praticamente sequestrado em Cuba! Os venezuelanos têm direito de saber qual seu verdadeiro estado e saúde e quem é que está dando as instruções em Cuba - queixou-se Antonio Ledezma, líder opositor e prefeito da região metropolitana de Caracas.
Ontem, o secretário-geral da MUD, Ramón Guillermo Aveledo, endossou as críticas à gestão secreta em Havana.
- Nós entendemos e consideramos este momento difícil vivido pela família de Hugo Chávez, mas devemos separar esta situação pessoal dos assuntos de Estado, com uma maturidade que os partidários do governo não estão mostrando - atacou.
O maior desafio, porém, parece ser interno. Ao mesmo tempo em que a doença de Chávez é uma oportunidade, pode, paradoxalmente, trazer cenários ainda mais sombrios. Se o líder bolivariano for logo substituído pelo presidente da Assembleia Nacional, com eleições convocadas em 30 dias, trata-se de uma derrota histórica para a oposição - qualquer que seja seu candidato - frente ao candidato do oficialismo, Nicolás Maduro. Este se apropriaria das benesses de ter sido apontado herdeiro pelo próprio Chávez. E a onda de compaixão e solidariedade que o martírio do comandante despertaria elevaria ao máximo a popularidade de Maduro - como em 2010, na reeleição de Cristina Kirchner na Argentina após a morte do marido dela, o ex-presidente Néstor Kirchner.
Assim, em tese, o próximo candidato da MUD terá pela frente um inimigo oficialista de poderes reforçados. Com o apoio da corrente majoritária da aliança, Henrique Capriles aparece como a primeira opção. Embora derrotado em outubro, foi o homem que mais votos conseguiu tirar de Chávez e acabou reeleito governador do estado de Miranda em dezembro - numa das poucas vitórias regionais da MUD. Sua indicação também seria a mais prática, por consenso, dado o pouco tempo para se formular primárias visando à escolha de outro nome. Capriles, porém, ainda não se pronunciou sobre uma candidatura de alto risco: às pressas e diante de um povo consternado pela ausência de Chávez - o que poderia, ainda, inibir a MUD da combatividade característica de um evento eleitoral.
Além de Capriles, outros nomes despontam, como o do veterano líder democrata Henrique Salas Römer, derrotado por Chávez no pleito de 1998.
TRANSIÇÃO LONGA, GANHo de TEMPO
Um cenário de transição mais demorada, com a ausência temporária do presidente por até seis meses, porém, facilitaria a escolha da MUD. Ou a hipótese de Chávez se mostrar apto a exercer a Presidência por algum tempo. E outras opções poderiam ser estudadas, como o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma; o líder do partido Vontade Popular e ex-prefeito de Chacao, Leopoldo López, e a deputada Maria Corina Machado. O risco, então, seria que ambições desenfreadas pudessem inviabilizar a unidade opositora.