Título: Dirceu: Gurgel confessou não ter provas
Autor:
Fonte: O Globo, 11/01/2013, País, p. 4

Procurador-geral disse que mensalão é "muito mais amplo"

Condenado a dez anos e dez meses de prisão, o ex-ministro José Dirceu afirmou ontem que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, "confessou" tê-lo acusado sem provas no processo do mensalão. Ao jornal "Folha de S. Paulo", Gurgel disse haver "uma série de elementos de prova" contra Dirceu, mas afirmou que "não é prova direta". Segundo Gurgel, Dirceu fazia "entrada rápida" em reuniões ou era consultado por telefone nas negociações com os partidos, mas não foi flagrado nessas ocasiões.

"As declarações do procurador-geral da República deixam claro, mais uma vez, que nunca houve provas contra mim", escreveu Dirceu em seu site, complementando: "Ele confessa que não tinha provas e que se apoiou na farsa de supostos telefonemas e reuniões relâmpago". Mas para o senador Pedro Taques (PDT-MT), que é ex-procurador da República, o fato de Gurgel ter dito que a participação de Dirceu ficou comprovada por meio de "elementos de prova", e não provas diretas, não desmerece a denúncia feita ao Supremo Tribunal Federal (STF).

- Isso (prova indireta) é absolutamente normal em crime de corrupção. A prova direta é o cara colocando dinheiro no bolso, como o Maurício Marinho (ex-diretor dos Correios). O Código de Processo Penal não estabelece diferença entre prova direta e indireta - disse Taques.

Integrantes da oposição consideraram a declaração de Gurgel na entrevista, de que o esquema do mensalão é "muito maior, muito mais amplo, do que aquilo que acabou sendo objeto da denúncia" uma sinal de que haveria indícios de envolvimento do ex-presidente Lula.

- Ao dizer que a coisa é mais ampla, ele está apontando para a possibilidade de envolvimento direto do Lula no mensalão - disse o presidente do DEM, senador José Agripino (RN).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente nacional do PT, Rui Falcão, que estão em férias, não comentaram a entrevista.