Título: Política internacional favorável
Autor: Valente, Gabriela; Bonfanti, Cristiane
Fonte: O Globo, 13/01/2013, País, p. 3
O PT contou com uma conjuntura econômica internacional extremamente favorável nos seis primeiros anos depois que assumiu o comando do país. O ciclo de prosperidade global que antecedeu a crise de 2008 foi marcado pelo aumento do comércio e expansão econômica em todo o mundo, impulsionados principalmente pela integração da China à economia mundial.
- Aumentamos as exportações e melhoramos as contas externas. O país saiu de um déficit em conta corrente de 4% do PIB no final dos anos 1990 para um leve superávit em 2003 e 2004. Com isso, tivemos mais condições de trabalhar a economia doméstica, o que explica boa parte do sucesso do governo Lula - diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor de pós-graduação em Economia Política da PUC de São Paulo.
Mesmo com os ventos favoráveis, o primeiro mandato de Lula foi marcado por taxas de crescimento abaixo da média do PIB mundial. Para Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), o país poderia ter crescido mais:
- Na mesma época, vimos Colômbia e Peru alavancarem o crescimento, que se mantém até hoje. O Brasil ficou devendo, em termos agregados, um crescimento melhor.
O ambiente mudou drasticamente em 2008, com a crise que derrubou a demanda externa e os investimentos, levando a uma queda de 0,33% no PIB brasileiro em 2009. A recuperação, no entanto, foi rápida. Em 2010, último ano de mandato de Lula , o país cresceu 7,53%, puxado pelo consumo.
No governo Dilma, o recrudescimento da crise na Europa e dos problemas da dívida nos Estados Unidos, desdobramentos do baque de 2008, mantiveram a economia internacional desaquecida. Situação que abriu caminho para que o governo reduzisse a taxa de juros internamente, mas que desacelerou fortemente a economia. Ficou claro que os mesmos estímulos ao consumo, que permitiram a rápida recuperação da economia no final do governo Lula, já não surtiam mais os mesmos efeitos.
- O carro-chefe do crescimento econômico tem que passar pelo investimento (público e privado) e também pelas exportações, com a geração de emprego e melhorias salariais induzindo o consumo. Mais uma vez, os rumos da conjuntura internacional serão decisivos para as escolhas que poderão ser feitas pelo governo daqui para frente - diz Luiz Filgueiras, professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia.