Título: Famílias querem mudar grupo que busca mortos no Araguaia
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 06/01/2013, País, p. 12

Para parentes de desaparecidos, há militares em excesso

BRASÍLIA Parentes de desaparecidos políticos querem reduzir o número de militares que integram o grupo criado pelo governo para localizar e recolher corpos de guerrilheiros que atuaram na Guerrilha do Araguaia. Para 33 familiares que assinaram documento com esse pedido, entregue ao ministro da Defesa, Celso Amorim, há duas semanas, a presença dos militares nas expedições do Grupo de Trabalho Araguaia (GTA) "assusta" os moradores da região onde são feitas as buscas, aumenta os gastos da operação e não tem assegurado resultados na localização dos restos mortais. O documento foi entregue a Amorim no primeiro encontro do ministro com parentes de vítimas da ditadura, na Secretaria de Direitos Humanos.

Desde que o grupo foi criado, em 2009, em cumprimento a uma decisão judicial, os militares têm dado apoio logístico às operações. O GTA é composto de militares, familiares dos desaparecidos, observadores e pesquisadores. Cada expedição envolve, em média, 135 pessoas: dois terços são militares e um terço, civis. O gasto do Ministério da Defesa com as expedições de 2011 e 2012 foi de R$ 3,9 milhões, sendo que R$ 2,4 milhões com diárias, passagens e locomoção, incluídos locação de veículos e combustível. O Ministério da Justiça e a Secretaria de Direitos Humanos também pagam despesas de seus membros, mas com valores bem menores.

"A participação de um efetivo maior de militares se justifica pelas próprias características da região, sendo os militares responsáveis pelas atividades de segurança, transporte, comunicação, saúde, cartografia, dentre outras, relativas ao apoio logístico sob responsabilidade do Comando do Exército", informou o Ministério da Defesa.

famílias criticam expedições

Mas, em nota, os familiares contestam o número de militares. "Entendemos que o número de militares nas expedições deve ser reduzido, vez que apenas assusta os moradores locais e também onera muito o valor total de gastos sem que fique demonstrada a necessidade de tantos quadros, aparatos e equipamentos disponibilizados na logística", aponta o documento.

Os familiares afirmam ainda que os melhores resultados nas busca foram obtidos na ausência de militares. "A maioria das informações obtidas pelos familiares só foram realmente possíveis quando estes estiveram desacompanhados de forças militares, em 1981, 1991 e em 1996, quando o aparato governamental era pequeno".

Mas a posição de familiares não é unânime. Muitos parentes apoiam o trabalho do grupo, como Diva Santana, que representa familiares na Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.

- Acho que estamos trilhando o caminho possível.