Título: Independentes do Senado lançam candidatura de Randolfe Rodrigues
Autor: Krakovics, Fernanda
Fonte: O Globo, 16/01/2013, País, p. 3

Às vésperas da eleição para escolher o novo presidente do Senado, que deve ser mais uma vez Renan Calheiros (PMDB-AL) - que deixou o cargo em 2007 para não ser cassado em meio a denúncias de corrupção -, o grupo dos chamados independentes tenta criar um movimento para implantar novas práticas na Casa e tentar resgatar sua credibilidade. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) está enviando aos demais senadores um manifesto intitulado "Uma nova presidência e um novo rumo para o Senado". O texto servirá de plataforma para a candidatura alternativa do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que concorrerá para marcar posição.

Além de listar exemplos da suposta ineficiência do Senado e criticar a falta de transparência, Cristovam faz propostas concretas, como a de ter votações de segunda a sexta-feira, e não só de terça e quarta-feira, além de uma reforma na consultoria jurídica da Casa para evitar episódios como o não recolhimento de Imposto de Renda sobre o 14º e 15º salários dos senadores, posteriormente cobrado pela Receita Federal.

Renan ainda não admitiu oficialmente que é candidato, embora esteja fazendo campanha nos bastidores. Ele tenta evitar, assim, o ressurgimento antecipado das acusações contra ele. Essa postura é alvo de críticas dos independentes.

- Sou candidato porque não tenho vocação para ser eleitor de cabresto, nem o Senado é a República Velha para chegar em 1º de fevereiro e preencher cédulas com nome pré-definido. Não ter candidato contra Renan é concordar que está tudo bem - afirmou Randolfe.

Randolfe aceitou a tarefa depois que o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) se recusou a enfrentar Renan. Os independentes avaliavam que o ideal seria ter um candidato da base aliada, e de preferência do PMDB, já que o partido tem direito, por ser a maior bancada, ao posto de presidente do Senado. Em 2011, Randolfe enfrentou o senador José Sarney (PMDB-AP) na eleição para o comando da Casa e teve apenas oito votos, mesmo sendo votação secreta. Desta vez, a candidatura independente foi articulada em jantares na casa do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que costumavam reunir 11 dos 81 senadores.

"A principal causa da perda de credibilidade do Senado é consequência de nosso comportamento e nossa ineficiência. Nos últimos anos, o Senado tem acumulado posicionamentos que desgastaram sua imagem perante o povo brasileiro, especialmente pela falta de transparência, pela edição de atos secretos, pela não punição exemplar de desvios éticos e pela perda da capacidade de agir com independência", diz o texto divulgado por Cristovam.

Um dos pontos citados por ele para ilustrar a "inoperância" do Senado - nesse caso, na verdade, do Congresso - é o fato de haver 3.060 vetos presidenciais na pauta ainda aguardando votação. E, mais ainda, a tentativa, no mês passado, de votá-los de uma vez só para tentar derrubar o veto da presidente Dilma Rousseff à nova forma de distribuição dos royalties do petróleo. "Mostramos uma cara de ineficiência por décadas e de ridículo por uma tarde", escreveu o pedetista.