Título: Os 10 negociadores de Dilma
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 16/10/2009, Política, p. 2
Caciques dos partidos governistas participam da rotina de campanha da candidata de Lula com a missão de ampliar alianças e resolver conflitos.
Preocupada com a aceleração do ritmo da pré-campanha presidencial, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), convocou generais nos partidos aliados a fim de formar um arco de alianças com cinco partidos, capazes de derrotar a oposição na corrida pelo Palácio do Planalto. Dilma tem a colaboração de pelo menos 10 políticos petistas e de legendas governistas que só pensam em como superar as dificuldades regionais e nacionais para costurar um projeto de poder que dure mais quatro anos, pelo menos.
Cada um dos ¿costureiros de Dilma¿ tem uma tarefa pré-estabelecida. Uns estão focados em unificar suas legendas, outros se empenham em convencer aliados de que o governo não pode se dividir. E o ex-ministro José Dirceu pensa em como tratorar interesses regionais do PT e jogar todo o peso da máquina partidária para a eleição nacional.
Os jantares de confraternização de Dilma com os aliados são marcados pela presença dos seguidores. O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, o presidente da legenda, Ricardo Berzoini, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, além do deputado Cândido Vaccarezza, não desgrudam dela. Os três primeiros são quase sombra da pré-candidata petista. Nos holofotes, Palocci está fazendo o papel de Dirceu na campanha de 2002, de Lula. Claro que, nos bastidores, ele ainda não tem o peso que o ex-ministro e deputado cassado exerce sobre o PT.
Pimentel foi trazido para a linha de frente dos negociadores graças à proximidade e amizade com Dilma. Pelo papel institucional, Berzoini é quem opera o acerto idealizado por Lula com o PMDB. O presidente do partido trabalhou de acordo com o roteiro desenhado pelo presidente e conseguiu o principal entendimento nesse período de pré-campanha ao relegar para o segundo plano os problemas estaduais e alinhavar o acordo nacional com os peemedebistas.
Esse trabalho foi facilitado graças ao empenho do presidente da Câmara e licenciado do PMDB, Michel Temer (SP), e do líder da bancada Henrique Eduardo Alves (RN). Partiu desses peemedebistas, ao lado do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, a ideia de firmar primeiro a aliança presidencial. A formalização do acordo, que inclui ceder a vice para um peemedebista, está marcada para a próxima semana em encontro da cúpula dos dois partidos com Lula e Dilma.
O quarteto petista foi o responsável também por aproximar sua candidata dos aliados. Dilma se reuniu com PCdoB, PDT, PR para se confraternizar e debater eleições. Os comunistas estão fechados em trabalhar por uma única candidatura representante do governo Lula. O ex-ministro e deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) tem assumido conversas com os partidos da base para defender que a melhor maneira de derrotar a oposição em 2010 é fazer da eleição um plebiscito, exatamente como quer o presidente da República.
O PDT entrou nessa barca graças ao empenho do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente licenciado da legenda. Ele descartou de pronto um acordo com o PSB e ajudou a desidratar a candidatura presidencial do deputado Ciro Gomes (CE). Aldo e Lupi têm mantido conversas com a cúpula socialista para convencê-los da proposta pró-Dilma. No PR, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, não vê alternativa se não fechar com o PT.
Jantar A próxima rodada de negociações ocorre com o PP. O jantar está marcado para o dia 27 deste mês. ¿Este é um trabalho de construção e conquista. Os partidos da base estão ajudando. Mas eu, o ministro Dornelles e o ministro Márcio Fortes (Cidades) estamos empenhados em fazer essa aliança sair¿, disse o líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA).
Todos esses políticos estão empenhados, mas não querem assumir qualquer compromisso antes com o PT. Eles também têm interesses próprios e querem se cacifar nas negociações. Ninguém deseja ficar relegado ao papel de coadjuvante. Mas numa aliança sempre tem uns que podem mais que os outros.
No governo, Dilma, que já era cercada por ¿homens meigos¿, montou uma equipe de coordenação para discutir as estratégias eleitorais. O conselho tem a participação do chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, dos ministros Franklin Martins (Comunicação Social) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), além do marqueteiro João Santana.
Os costureiros da ministra
Confira quem são os personagens que funcionam como interlocutores de Dilma: Paulo de Araujo/CB/D.A Press - 10/2/09 José Dirceu
Carlos Moura/CB/D.A Press - 27/5/09 Antonio Palocci
Paulo de Araújo/CB/D.A Press - 10/2/09 Ricardo Berzoini
Marcos Michelin/EM/D.A Press - 27/10/08 Fernando Pimentel
Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press - 20/8/09 Michel Temer
Elton Bomfim/Agência Câmara - 3/6/09 Henrique Eduardo Alves
José Varella/CB/D.A Press - 9/4/09 Alfredo Nascimento
Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr - 1/10/09 Carlos Lupi
Carlos Moura/CB/D.A Press - 1/2/09 Aldo Rebelo
Cadu Gomes/CB/D.A Press - 2/4/09 Francisco Dornelles
José Dirceu Fora dos holofotes da cena política, o ex-ministro de Lula atua nos bastidores e tem andado por todos os estados para resolver os problemas dos petistas com os partidos aliados para formar a maior aliança em torno da chefe da Casa Civil.
Antonio Palocci O ex-ministro da Fazenda assumiu o papel que teve na campanha de 2002 do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Participa do grupo de coordenação política da campanha. Está em todos os encontros políticos de Dilma com os aliados.
Ricardo Berzoini É o coordenador do grupo de trabalho eleitoral do PT e o principal negociador da legenda com o PMDB. Não hesitou em apoiar a ideia de fechar a aliança nacional com os peemedebistas e os convidou a ajudar na elaboração da plataforma da candidatura.
Fernando Pimentel O ex-prefeito petista de Belo Horizonte é um dos homens mais próximos da ministra Dilma e assumiu o papel de principal articulador das alianças. Em algumas conversas com os partidos aliados, ele negocia com procuração da pré-candidata.
Michel Temer O presidente da Câmara e do PMDB teve a ideia de fechar primeiro a aliança nacional e deixar os problemas estaduais com o PT para o segundo plano. É cotado para ser vice na chapa.
Henrique Eduardo Alves O líder do PMDB na Câmara é um dos maiores entusiastas da aliança nacional com o PT. Partiu dele a proposta de ter Michel Temer como vice numa forma de institucionalizar a chapa presidencial.
Alfredo Nascimento O ministro dos Transportes trabalha para conter insatisfeitos no PR. Partiu dele a iniciativa de aproximar a ministra de bancadas na Câmara e no Senado. Nascimento foi o responsável por conter o ex-governador do Rio Anthony Garotinho de atacar o governo Lula.
Carlos Lupi Presidente licenciado do PDT e ministro do Trabalho, Lupi foi o primeiro a conter tentativas do senador Cristovam Buarque (DF) de viabilizar sua candidatura à Presidência. Rejeitou também qualquer possibilidade de aliança com o PSB de Ciro Gomes.
Aldo Rebelo O deputado pelo PCdoB de São Paulo atua para unificar a base aliada em torno de uma única candidatura para enfrentar a oposição em 2010. Assumiu conversas com o PDT e o PSB, que formam com os comunistas o bloco de esquerda, para se unirem no projeto de unidade.
Francisco Dornelles O presidente do PP e senador pelo Rio ouve ponderações dos diretórios estaduais do partido para unificar os interesses pró-Dilma. Ele conta com os esforços do líder na Câmara, Mário Negromonte (BA), e do ministro das Cidades, Márcio Fortes.
Gás de cozinha no debate
Enquanto a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e seus aliados costuram alianças eleitorais e sonham com um amplo arco de apoio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pensa em como a máquina do governo pode ajudar sua candidata na briga contra a oposição. Depois de flertar com a possibilidade de aumentar o número de famílias abraçadas pelo Bolsa Família, a bola da vez é o gás de cozinha.
Lula disse que o governo cogita reduzir o valor do botijão de gás. E vendeu que a proposta tem a coautoria de Dilma. O problema é que, em termos estritos da burocracia estatal, ela não tem nada a ver com essa decisão. Cabe à Petrobras decidir sobre o tema. ¿É uma coisa que está na minha cabeça, está na cabeça da Dilma, é uma coisa que queremos ver, se a gente reduz o preço do gás, porque as pessoas pobres usam gás e pagam caro pelo botijão, que está R$ 40, R$ 38¿, disse Lula em entrevista coletiva a rádios em Sertânia (PE), onde ele visita obras da revitalização e transposição do Rio São Francisco.
Essa é mais uma medida de olho no voto da população no ano que vem. O governo também estuda estender o benefício básico do Bolsa Família para todos os beneficiários do programa. Com valor de R$ 68, a ajuda atende apenas às residências em extrema pobreza. Só essa bondade incluiria mais 2,6 milhões de famílias beneficiadas.
Lula aproveitou a vistoria das obras no São Francisco para voltar a afirmar que deseja apenas um candidato representante do governo na eleição do ano que vem. ¿Uma eleição plebiscitária. Nós contra eles. Pão, pão, queijo, queijo. Se não for possível, paciência¿, disse. Além de Dilma, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) flerta com a possibilidade de se lançar ao Palácio do Planalto. (TP)