Título: Caderneta de poupança teve captação recorde em 2012
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: O Globo, 08/01/2013, Economia, p. 23

Ganho cai, mas depósitos batem saques em R$ 49,7 bi, maior valor desde 1995

BRASÍLIA Apesar da regra nova, que achatou o rendimento para depósitos a partir de 4 de maio, e de perder para a inflação, a caderneta de poupança bateu recorde em 2012. A diferença entre os depósitos e os saques, a chamada captação líquida, foi de R$ 49,7 bilhões. É o maior valor desde quando o Banco Central começou a registrar os dados, em 1995. Na série histórica da autarquia, o melhor resultado para um ano havia sido verificado em 2010, quando a aplicação captou R$ 38,7 bilhões.

De acordo com o Banco Central, somente em dezembro, o brasileiro depositou na caderneta de poupança R$ 9,2 bilhões, já descontadas todas as retiradas. Essa é outra marca histórica. Nunca houve uma captação líquida mensal como a do mês passado.

Os economistas garantem que há uma migração de recursos que estavam nos fundos de investimentos para a poupança por causa da queda dos juros no país, que afeta o rendimento dos papéis. A elevação da renda também contribui para os recordes da caderneta de poupança, já que estimula o brasileiro a guardar dinheiro. Dezembro é um mês forte para a aplicação, porque é destino para parte do 13º salario.

Para o economista e professor do Ibmec Gilberto Braga, outro motivo contribuiu para a robustez da poupança num ano peculiar: o desempenho ruim da Bolsa de Valores. Como investir em ações não está tão atraente como antes, a saída é se refugiar na segurança da caderneta, mesmo com parte dos recursos sendo comida pela inflação.

- Com a diminuição dos juros e como a renda variável não tem rendido muito nem tem apelo popular, a poupança se apresenta como um porto seguro e que dá liberdade já que você pode aplicar e resgatar sem ter de falar com o gerente - argumentou o economista. - A classe média não encontra outra aplicação tão na moda como a poupança.

Por essa popularidade, o governo adiou por anos o desafio de reduzir o rendimento. Era necessário, para permitir que o Banco Central cortasse ainda mais a taxa de juros básicos e diminuísse o custo financeiro do país: uma das principais bandeiras da presidente Dilma Rousseff.

Brasileiros aplicam R$ 496 bi

Em maio do ano passado, Dilma decidiu que novos depósitos não seriam mais corrigidos pela fórmula de 6% ao ano, além da taxa referencial (TR) toda vez que a taxa básica de juros (Selic) cair para 8,5% ao ano. Quando estiver menor que esse patamar, a aplicação rende 70% da Selic mais TR. O gatilho da mudança foi acionado ainda em maio, quando o Banco Central diminuiu os juros básicos de 9% para 8,5% ao ano. Hoje, a taxa está em 7,25%.

O governo queria evitar que os juros fizessem com que houvesse uma corrida para a poupança porque os fundos de investimentos renderiam menos que a aplicação popular. Isso poderia gerar problemas para o próprio setor público, já que os fundos têm papéis da dívida pública.

Essa mudança foi vista por políticos e analistas como uma vitória de Dilma, já que não lembrou o "sequestro da poupança", no início do governo de Fernando Collor, em 1990. Longe do trauma, a aplicação terminou 2012 com R$ 496,3 bilhões dos brasileiros em caixa. (Gabriela Valente )