Título: O bom policial fica numa dúvida: ou ele vê o sujeito morrer ou atua
Autor: Falcão, Jaqueline; Voitch, Guilherme
Fonte: O Globo, 09/01/2013, País, p. 3

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A medida do governo de São Paulo é acertada?

Tem uma parte boa. O motivo da medida é bom. A determinação evita que determinados policiais estraguem os locais de crime e o trabalho da perícia. Evita também que suspeitos feridos sejam mortos no meio do caminho para o hospital. É a questão do local do crime. Você preserva isso, uma coisa fundamental para o decorrer do processo e da investigação. Isso vai ter efeitos sobre o processo lá na frente.

A pessoa que foi ferida não corre mais riscos ao esperar pelo atendimento?

A possibilidade existe sim. O Samu pode demorar um pouco, e aí o bom policial fica numa dúvida. Ou ele vê o sujeito morrer ou atua e faz o socorro. Aí, se ele fizer, pode ser penalizado e responder a um processo administrativo. A intenção do policial de bem é ajudar e é prestar o socorro.

A decisão pode sobrecarregar o sistema de saúde?

O que tem de ocorrer é uma presença mais efetiva do Ministério Público. Em situações extremas, é difícil a polícia não intervir e fazer o atendimento. O Ministério Público tem de atuar nisso e ver os casos em que se alterou a cena do crime ou casos suspeitos de má conduta policial. O MP queixa-se muito disso, da polícia não produzir provas, de não produzir provas periciais que possam ser utilizadas no decorrer do processo. Mas o Ministério Público precisa resguardar o local do crime e indiciar os policiais que atuam de forma errada, mas não se pode misturar as coisas. É a polícia que está lá no local do crime e o Samu pode demorar um pouco a chegar. São minutos cruciais. Organizar esse procedimento entre polícia e Samu pode ser meio atabalhoado no começo. É preciso definir um procedimento com calma e organização.