Título: Não se carrega corpo em carro de polícia. Isso é resquício da ditadura
Autor: Falcão, Jaqueline; Voitch, Guilherme
Fonte: O Globo, 09/01/2013, País, p. 3

Ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente diz que medida é acertada, mas tardia

A medida do governo de São Paulo é acertada?

Eu acho que, muito mais que acertada, é atrasada. Está atrasada 30 anos. Isso é feito no exterior há muito tempo. Começou com o Corpo de Bombeiros de Chicago, nos Estados Unidos, e veio para o Brasil. Aqui já é o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Emergência) que faz o atendimento a feridos no trânsito. É o Samu que dispõe de infraestrutura apropriada para essa remoção de feridos. São equipes que têm toda a capacitação para transportar feridos reduzindo os danos, reduzindo o risco de morte. Além disso, evita que alguns poucos policiais, que têm más intenções, usem esse transporte para entregar mortos no pronto-socorro, suspeitos que saíram vivos do local do confronto. Além disso, evita o desfiguramento do local do crime e resguarda, para a perícia, esse local. Não se pode carregar vítima de confronto em carro de polícia. Não se carrega corpo de vítima em carro de polícia. Isso é resquício da época da ditadura militar.

A pessoa que foi ferida não corre mais riscos ao esperar pelo atendimento?

Isso já é feito para feridos gravíssimos de trânsito. É uma questão de adaptação ao novo procedimento. Pode-se alterar o procedimento e emitir o alerta para o Samu assim que houver sinalização de confronto com arma de fogo, dando mais agilidade ao atendimento.

Mas essa decisão do governo de São Paulo não pode sobrecarregar o sistema público de Saúde?

As situações de confronto armado são extremas. Temos 120 mil chamadas por dia, que são recebidas pela Polícia Militar em todo o estado de São Paulo. Desse total, apenas três acabam em confronto armado. Não vejo problemas.