Título: Indústria teme que haja apagão de gás no segundo semestre
Autor: Scrivano, Roberta; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 09/01/2013, Economia, p. 20
Para entidade, situação compromete queda de 20% na conta de luz
A uso do gás natural pelas termelétricas nos próximos meses pode resultar na falta do combustível para a indústria a partir do segundo semestre. A advertência é do presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Carlos Faria. Segundo ele, o industrial que opta pelo gás natural no Brasil sabe que há risco de ficar sem o insumo se situações como a atual, de reservatórios com nível baixo de água e todas as térmicas ligadas, se prolongarem. Isso ocorre, observou, porque a Petrobras, que detém o monopólio da distribuição do combustível, dá prioridade ao abastecimento das térmicas. O que sobra vai para a indústria.
Uma fonte do setor informou que um grande consumidor de gás natural no Espírito Santo recebeu ontem uma notificação da distribuidora local sobre a redução do fornecimento do gás. A Petrobras não quis confirmar a informação, alegando cláusula de confidencialidade nos contratos. Alguns são de fornecimento flexível, permitindo a substituição total ou parcial do volume contratado de gás natural por combustível alternativo, no caso de consumidores bicombustíveis.
- Ainda não está faltando gás para a indústria. Mas, se a estiagem continuar, é provável que a partir do segundo semestre a entrega de gás fique prejudicada - afirmou Faria.
Questionada sobre o temor dos empresários, a estatal informou que "reafirma que não há qualquer problema com relação à disponibilidade de gás para o mercado".
Para o presidente da Anace, um racionamento branco, com redução voluntária do consumo de energia pelo setor produtivo, só seria possível numa situação em que o governo admitisse disponibilidade de energia próxima do limite.
- O racionamento branco só pode ser recomendado se o governo for muito, muito transparente. Se isso ocorrer, a indústria teria de ver sua carteira de pedidos e fazer uma redistribuição da produção. Se os pedidos estiverem mais fracos agora, por exemplo, eles podem antecipar um período de férias coletivas - explicou.
Faria descartou o risco de um apagão este ano. Mas, se 2013 for de chuvas abaixo das médias históricas, "há grandes chances de os brasileiros ficarem sem luz em 2014".
Para a Anace, a utilização das termelétricas para poupar a água dos reservatórios é uma solução paliativa e cara, já que a energia é gerada a partir de gás natural, carvão e óleo diesel. Além disso, as térmicas, juntas, têm capacidade de geração de 14 mil megawatts-hora (MWh), a produção de Itaipu, ao passo que o consumo nacional é de 70 mil MWh.
- Estamos passando por essa situação hoje porque o governo não tem planejamento. Há térmicas que não saíram do papel, eólicas que não têm linha de transmissão e hidrelétricas sem reservatório por causa das regras ambientais - disse, ressaltando que o custo das térmicas será repassado a todos os consumidores o que reduzirá o desconto médio de 20% prometido pelo governo, para entre 10% e 14%.