Título: Mito preenche o vazio
Autor:
Fonte: O Globo, 08/01/2013, Mundo, p. 27

Vídeos e anúncios na TV reforçam culto à personalidade de Chávez

Do El País

PROPAGANDA

Sua figura maciça se eleva como se estivesse levitando, em câmera lenta, entre meninos que sorriem como anjos. Beija as mãos que se oferecem, levanta delicadamente um bebê no ar, abraça com ternura uma anciã. "Exijo lealdade absoluta porque não sou eu, sou o povo, cacete", ecoa a voz de Hugo Chávez sobre um clímax musical. O vídeo se chama #YoSoyChávez e é transmitido pela estatal Venezolana de Televisión (VTV). Começa com um panteão onde se alternam ícones como o libertador Simón Bolívar, Karl Marx e Che Guevara com Abraham Lincoln, Nelson Mandela, John Lennon e o médico venezuelano José Gregorio Hernández, em processo de beatificação. No final, o céu chora sobre a imagem de um Chávez que parece imortal.

Os meios oficiais e os porta-vozes governamentais tentam preencher o enorme vazio deixado pelo mandatário com um aumento do culto à personalidade que o homem forte venezuelano promoveu desde que chegou ao poder. Tal exacerbação não é espontânea para o mestre em Comunicação Antonio Pasquali:

- É reiterada e programada; está baseada em fórmulas que os membros do governo repetem sem modificações e nas quais predominam "amar" e todos os seus derivados, em busca de reforçar ao máximo o vínculo irracional, afetivo, entre o líder e seus partidários.

Tudo na Venezuela leva seu selo. O nome do país, a bandeira, o escudo nacional e até Simón Bolívar, a quem o governo deu um novo rosto. Chávez está em todas as partes. O fenômeno não tem paralelo na História do país, segundo o historiador Germán Carrera Damas.