Título: Nova candidatura contra Renan começa a ser costurada no Senado
Autor: Krakovics, Fernanda; Voitch, Guilherme
Fonte: O Globo, 17/01/2013, País, p. 6

Pedro Taques, do grupo dos independentes, teria a simpatia de senadores tucanos

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Um dia depois de o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) colocar seu nome na disputa pela presidência do Senado, o senador Pedro Taques (PDT-MT), do mesmo grupo dos independentes, anunciou ontem que também está articulando sua candidatura para o comando da Casa. Quem conseguir reunir mais promessas de apoio - a votação é secreta - permaneceria no páreo e o outro se retiraria. Tanto a candidatura de Taques quanto a de Randolfe são uma forma de protesto à volta praticamente certa do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), à presidência da Casa, de onde foi apeado em 2007 em meio a denúncias de que tinha despesas pessoais pagas por um lobista de uma empreiteira.

Senadores do PSDB estariam dispostos a votar em Taques, mas teriam resistência a Randolfe. Um dos motivos seria a atuação do senador do PSOL na CPI do Cachoeira. Para os tucanos, Randolfe foi muito veemente na cobrança pelo pedido de indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), suspeito de ter ligações próximas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o que ele nega. Outro fator motivou o pedetista a entrar na disputa: há dois anos, Randolfe disputou a presidência do Senado com José Sarney (PMDB-AP) e teve apenas oito votos.

- Eu quero ser candidato, mas não posso ser candidato de mim mesmo. Estou conversando com senadores para ver se tenho apoios. O mais importante é termos um debate. Vivemos um momento de restauração do Senado, independentemente de nomes - afirmou Taques.

Assim como Randolfe, Taques teria como plataforma de campanha um manifesto redigido pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF) com a contribuição dos dois. Além de listar exemplos da suposta ineficiência do Senado e criticar a falta de transparência, o documento faz propostas práticas, como ter votações de segunda a sexta-feira, e não só às terças e quartas, e uma reforma na consultoria jurídica da Casa, para evitar episódios como o não recolhimento de Imposto de Renda sobre o 14º e 15º salários dos senadores, posteriormente cobrado pela Receita Federal.

Taques ressalta especialmente a necessidade de o Senado recuperar seu protagonismo, evitando assim a judicialização da política. Ele cita como exemplo a exigência, feita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de estabelecimento de um novo critério para distribuição dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE).

Randolfe, que é do mesmo grupo de Taques - os chamados independentes -, disse que não foi informado sobre a intenção do pedetista de disputar a presidência do Senado. O senador do PSOL afirmou que continua em campanha:

- Eu conversei com o Pedro (Taques) ontem (anteontem) e ele não me disse nada. A minha candidatura está mantida. Eu conversei hoje com o senador Pedro Simon (PMDB-RS) e estou contando que a candidatura está avançando. Se outro nome for colocado, avaliaremos - afirmou Randolfe.

José Dirceu critica candidatura de Randolfe e manifesto de Cristovam

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado pelo Supremo a dez anos e dez meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa, criticou ontem, em seu blog pessoal, a candidatura de Randolfe à presidência do Senado. Randolfe pretende ser o adversário de Renan Calheiros (PMDB-AL), ex-presidente da Casa, candidato da base governista e favorito na disputa.

Para Dirceu, "o PSOL abandonou de fato qualquer veleidade de esquerda e se alia aos piores adversários do PT. Atuam escondidos numa retórica moralista com o único objetivo de desorganizar a base de apoio do governo e a maioria parlamentar construída no Senado pelas urnas e não pelo governo ou pela presidência ou Mesa do Senado".

Desde antes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomar posse em seu primeiro mandato, Dirceu era um entusiasta da participação do PMDB no governo. Na ocasião, quando o Ministério ainda estava sendo costurado, ele chegou a anunciar a participação dos peemedebistas no governo, mas Lula vetou. Só dois anos depois, o partido passou a participar da administração no primeiro escalão.

No blog, o ex-ministro da Casa Civil critica ainda o manifesto redigido pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que prega novas práticas no Senado, como forma de resgatar a credibilidade da Casa. Dirceu diz que as propostas de Cristovam são "demagógicas". Em seu manifesto, o senador pedetista pede que o Senado tenha votações em todos os dias úteis da semana, aprovação da reforma política e reforma na consultoria jurídica da Casa para evitar episódios como a cobrança de dívida de parte do Imposto de Renda (IR) dos senadores.

"Para colocá-las em vigor, basta os partidos que representam os senadores signatários da candidatura Randolfe as colocar em prática quando participam da Mesa do Senado. Simples", afirma o ex-ministro.