Título: Assessor de Alves pede demissão após denúncias de favorecimento
Autor: Pereira, Paulo Celso
Fonte: O Globo, 15/01/2013, País, p. 6

Dilma avalia que candidatura de peemedebista à presidência da Câmara está segura

paulo.celso@bsb.oglobo.com.br

BRASÍLIA Aluizio Dutra de Almeida, que assessorava o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, há 15 anos e é tesoureiro do PMDB no Rio Grande do Norte pediu demissão ontem do cargo. Ele deixou o posto após a "Folha de S.Paulo" revelar que ele é proprietário de uma empresa que recebeu verbas de emendas do próprio Henrique Alves e que também foi contratada pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), órgão sobre o qual o líder do PMDB exerce forte influência.

Almeida é sócio da Bonacci Engenharia e Comércio, empresa contratada para fazer pelo menos três obras no Rio Grande do Norte, estado de Henrique Eduardo Alves, financiadas por emendas do líder do PMDB.

Henrique Alves também foi alvo de outra denúncia, da revista "Veja", sobre aluguel de carros de empresa que teria por trás o ex-assessor do PMDB César Cunha. A empresa está registrada no nome de Viviane dos Santos, que disse ter emprestado o nome à tia Kelen Gomes, responsável por emitir notas para o gabinete do líder do PMDB.

Ontem pela manhã, antes da demissão de Almeida, a presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer estiveram reunidos e avaliaram que, apesar da série de acusações veiculadas no fim de semana contra Henrique Eduardo Alves, a candidatura dele à presidência da Câmara continua segura. Os dois concordaram que, a menos que surjam fatos novos muito relevantes, Henrique tende a ser eleito na primeira semana de fevereiro. A situação de Renan Calheiros (AL) no Senado é considerada semelhante. Apesar da série de acusações que o levaram a renunciar à presidência da Casa cinco anos atrás, Dilma e Temer estimam que ele deve voltar ao cargo, a menos que surjam novas e graves denúncias. O líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), também reafirmou apoio do partido a Henrique, apesar das denúncias.

Instabilidade preocupa presidente

A presidente deixou claro para Temer a preocupação com a instabilidade criada na bancada do PMDB na Câmara. Com o racha entre Henrique Alves e o deputado Eduardo Cunha (RJ), que disputa a liderança da legenda, Dilma teme que o governo tenha de passar a negociar com mais de um interlocutor na bancada peemedebista na Câmara. Michel Temer buscou minimizar o problema, alegando que, qualquer que seja o líder escolhido - Cunha disputa a vaga com Sandro Mabel (GO) e Osmar Terra (RS) -, não dará problemas maiores ao governo.

Ainda assim, é crescente o temor no Planalto com o fato de a candidatura de Cunha - tida como favorita - catalisar justamente o grupo de deputados insatisfeitos com a perda de espaços e de influência no governo. A própria presidente nunca escondeu que não via com bons olhos a ascensão de Cunha. O deputado, no entanto, ganhou novos apoios. Ontem ele foi ao Mato Grosso para assegurar o apoio do governador Silval Barbosa.

Com isso, três dos quatro governadores da legenda já definiram seu apoio ao deputado fluminense. Se na Câmara dos Deputados o cenário é considerado preocupante, tanto em relação ao futuro líder quanto em relação ao risco de surgirem novas denúncias contra Henrique Alves, o Senado já não causa temores. No final da tarde, a presidente encontrou-se com o presidente da Casa, José Sarney, que disse acreditar que o senador Eunício Oliveira (CE) é o favorito para assumir a liderança da bancada de senadores. Oliveira é ligadíssimo a Temer e tido como um governista leal.

Câmara traz outras inquietações

Já na Câmara, não é só no caso de Eduardo Cunha chegar à liderança que o cenário promete ser menos ameno para o governo. O deputado Osmar Terra, que, segundo parlamentares, teria firmado um acordo de reciprocidade com Cunha para que um apoie o outro caso haja segundo turno, deixa claro que não pretende ser mero homologador das decisões palacianas caso seja o escolhido. Ele nega, no entanto, a existência do acordo.

- O partido tem que deixar de ser homologador de decisões, para ser protagonista. As pessoas têm que olhar o PMDB e ver alguma coisa que tenha significado para elas. O partido está diminuindo de tamanho, reduziu a bancada e perdeu prefeitos - destacou o deputado gaúcho. - É claro que nós somos base do governo, mas também não vamos aceitar tudo de cabeça para baixo. O governo vai ter que nos ouvir. Eu não tenho apoio de ninguém e também não sou contra ninguém. Não existe esse acordo (com Cunha). A tendência, se eu não for para o segundo turno, é a de os deputados que me apoiam se dividirem.