Título: Assessores negam candidatura de Lula nas eleições de 2014
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 22/01/2013, País, p. 5

Afirmações foram feitas após rumores de desentendimento com a presidente Dilma.

Num momento de rumores sobre uma possível volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao cenário eleitoral - com candidatura a presidente ou a governador de São Paulo em 2014 - e até sobre desentendimentos seus com a presidente Dilma Rousseff, diretores do Instituto Lula negaram ontem que Lula pretenda se candidatar nas próximas eleições e disseram que a candidata do PT para 2014 é Dilma.

Lula, que, para um de seus aliados, pode até voltar, mas só em 2018, reuniu-se a porta fechadas num hotel da capital paulistana com um grupo de 36 intelectuais e autoridades sul-americanos. O objetivo era debater a integração da região.

- Nossa candidata para 2014 chama-se Dilma Rousseff - declarou o diretor-presidente do instituto, Paulo Okamotto.

O ex-ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi, um dos diretores do Instituto Lula, no entanto, não descartou uma eventual candidatura do ex-presidente em 2018.

- Mas não digo que não será em hipótese alguma em 2018, porque, se houver acirramento das contradições, uma crise nacional e depois (Lula) despontar como um polo de consenso para reaglutinar o país, ou um conjunto grande de forças políticas, aí ele se dispõe, como se dispôs em 1998, mesmo absolutamente convencido de que não deveria - disse ele.

Além de Vannuchi e Okamotto, o diretor responsável pelo encontro de ontem, o ex-secretário-geral da Presidência Luiz Dulci, também se esforçou em mostrar que Lula não estaria interessado no momento a voltar a disputar uma eleição.

O ex-presidente - que percorrerá em breve o Brasil em caravanas e também tem agenda na África e na América Latina - saiu do encontro pelos fundos, sem falar com a imprensa.

- A candidata do Lula é a Dilma - disse Dulci, para quem a "movimentação de Lula é natural e desejável para o PT". - A atuação dele será não governamental como a do (ex e falecido presidente da Argentina) Néstor Kirchner e dos ex-presidentes Nelson Mandela (África do Sul) e Bill Clinton (EUA). Quando o Clinton faz campanha para Obama, alguém reclama? - indagou Dulci.

Os assessores de Lula comentaram ainda sobre possíveis candidatos de outros partidos. Vannuchi disse que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) não seria candidato presidencial para valer em 2014. E afirmou que o ex-presidente quer trabalhar na criação de novos líderes e com os dois principais partidos aliados (PMDB e PSB), para os desafios eleitorais.

- Vocês jornalistas sabem, o Aécio é candidato para 2018. Agora, toda a construção é para ele virar figura de proa, disputar para perder evidentemente e contar como uma evolução, já que a Dilma não será mais candidata (em 2018) por razões constitucionais.

"lula quer criar novas lideranças"

Sobre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), Vannuchi contou que Lula e o PT não o consideram como potencial rival de Dilma em 2014.

- Primeiro, o Lula não parte do pressuposto de que o Eduardo seja candidato. O que pode estar acontecendo é gente procurando ele (sic) para apresentar propostas. E também se fosse ele, poderia aguardar um pouco, fazer uma avaliação de custo-benefício, e deixar (quem o procura) falar. Agora, o Lula acha que o Eduardo Campos é uma liderança política muito importante, acha que o PT errou muito em Pernambuco e está inteiramente dedicado em manter a liderança com o Eduardo - declarou o ex-ministro, para quem, Lula ainda está "aprendendo a ser ex-presidente".

- Ele me disse que não quer (se candidatar a qualquer cargo), que não faz parte do plano dele. O Lula quer ser isso que ele é agora, se reunindo com lideranças latinas, com povo, empresários, sindicalistas, bancadas, sociedade civil. Ele quer criar novas lideranças. Ser uma liderança política livre - completou o ex-ministro.

Do encontro de ontem, participaram nomes do governo Dilma, como o ministro da Defesa, Celso Amorim, e o assessor especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, que evitou comentar sobre o estado de saúde do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

- Tudo que eu tinha para falar, eu já falei, perguntem ao Chávez - disse Garcia, que foi criticado por opositores venezuelanos por concordar com a "não posse" de Chávez em 10 de janeiro.

Além deles, participaram acadêmicos e "lideranças progressistas", de acordo com o instituto, em exercício - como o prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, ou que já passaram por governos regionais. O ex-presidente frisou que a integração da América do Sul passa por um "choque de inclusão" e apontou a burocracia e a falta de conhecimento sobre o tema como dois principais entraves.