Título: A vez de gays e imigrantes
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 22/01/2013, Mundo, p. 22

Ao propor agenda progressista, Obama faz História defendendo direitos iguais para homossexuais.

Na cerimônia pública de posse para seu segundo mandato, o presidente Barack Obama, de 51 anos, estabeleceu uma agenda progressista de governo e definiu inclusão social e igualdade de direitos como prioridades dos seus próximos quatro anos na Casa Branca. Dirigindo-se ontem, das escadarias do Congresso, a 600 mil pessoas, Obama afirmou que os EUA só terão cumprido sua tarefa quando mulheres, negros e imigrantes tiverem as mesmas oportunidades dos demais americanos e fez História ao ser o primeiro presidente a defender, num discurso inaugural, o casamento entre homossexuais. Ele convocou a população a se engajar na luta pelos ideais de fundação da democracia americana, para forçar a ação política em meio à polarização extrema entre os partidos, e advogou um papel ativo do governo. Obama destacou a reforma do sistema de imigração, a preservação dos programas sociais nas negociações fiscais e a liderança dos EUA no enfrentamento de mudanças climáticas como pontos-chave de seu governo.

- Nós, o povo, declaramos hoje que a mais evidente das verdades, que todos somos criados iguais, ainda é a estrela que nos guia - disse Obama, citando locais históricos para os movimentos de direitos civis, como o próprio Mall, palco do discurso "Eu tenho um sonho" de Martin Luther King Jr., e Stonewall, berço do ativismo gay.

O presidente então declarou os termos nos quais define igualdade, no trecho mais aplaudido do discurso de 15 minutos:

- Nossa jornada não estará completa até que nossas esposas, mães e filhas sejam pagas de acordo com seus esforços. Nossa jornada não estará completa até que nossos irmãos e irmãs gays sejam tratados como todos os outros perante a lei, pois se somos verdadeiramente iguais, então o amor com o qual nos comprometemos também deve ser igual. Nossa jornada não estará completa até que nenhum cidadão seja forçado a esperar horas na fila para exercer o direito de voto. Nossa jornada não está completa até que achemos uma melhor maneira de receber os batalhadores e esperançosos imigrantes que veem os EUA como terra da oportunidade.

PAPEL DO GOVERNO

O discurso foi bem recebido, embora sem ovações. Obama fez uma exposição profunda e emocionada de sua visão para o futuro dos EUA. Para ele, o país precisa combater a desigualdade para prosperar e não se perder em ideias do passado. Por isso, disse, embora o governo não seja resposta a todos os desafios, tem papel fundamental na geração de oportunidades, com investimentos em infraestrutura, educação e tecnologia e regulação que garanta o bom funcionamento do mercado.

Obama defendeu que, embora seja preciso rever o tamanho dos programas sociais para alcançar a sustentabilidade das contas públicas, os EUA só vão prosperar se garantirem a cada um de seus cidadãos "uma medida básica de segurança e dignidade". Em claro confronto com o Partido Republicano, reafirmou compromisso com a Seguridade Social e os planos federais de saúde Medicare (idosos) e Medicaid (pobres), mecanismos que considera de inclusão.

- Nós (o povo) rejeitamos a crença de que os EUA devem escolher entre o cuidado à geração que construiu este país e o investimento na geração que construirá seu futuro - afirmou.

Surpreendendo sua base, Obama listou o meio ambiente como responsabilidade dos EUA:

- Responderemos à ameaça da mudança climática, sabendo que se falharmos será uma traição com nossas crianças e as futuras gerações.

Analistas consideraram o discurso um movimento de Obama à esquerda do espectro político - ele é considerado um centrista pela maioria dos especialistas - e uma declaração de guerra à oposição, à qual mandou um recado: "Não confundam princípio com absolutismo ou substituam a política por espetáculo". O presidente disse que os desafios do país são superáveis. O que falta, disse, é ação coletiva:

- Fomos feitos para este momento e vamos aproveitá-los, uma vez que o aproveitemos juntos.

A posse foi assistida por menos da metade do 1,8 milhão de pessoas que compareceram ao evento de 2009. Mas foi carregada de simbolismo. Os dois democratas que o antecederam na Presidência - Jimmy Carter e Bill Clinton - compareceram e o primeiro presidente negro da História do país ganhou mais quatro anos no feriado de Martin Luther King, cuja Bíblia foi usada, junto com a de Abraham Lincoln, no juramento.

Após a cerimônia, Obama e a primeira-dama, Michelle, participaram da parada entre o Congresso e a Casa Branca. À noite, iriam a bailes.