Título: Troca de comando na Oi
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 23/01/2013, Economia, p. 19

A Oi, controlada pela Telemar Participações, anunciou ontem a saída de Francisco Valim da presidência da companhia, pegando de surpresa analistas do setor e o próprio governo - o BNDES é sócio da empresa, assim como fundos de pensão de estatais. Segundo fontes, Valim, que havia assumido o cargo em junho de 2011, saiu por não ter cumprido as metas de crescimento estabelecidas para 2012 pela companhia. Além disso, os portugueses da Portugal Telecom (PT), que detém 7,07% da Oi e 12,07% da holding Telemar, teriam pressionado pela saída de Valim. A demissão fez as ações mais negociadas da empresa caírem quase 8% e levou a uma queda de 0,34% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ontem. Em dois dias, os papéis acumulam perda de 12,65%, já que rumores sobre a saída de Valim circulavam no mercado desde a véspera.

Como forma de amenizar as perdas, a Oi decidiu divulgar, de forma preliminar, e ainda não auditados, os resultados de 2012. E, conforme era esperado, os números vieram abaixo das metas divulgadas pela companhia em abril. Em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a tele informou que a geração de caixa ficou em R$ 8,7 bilhões, 1,14% menor que o objetivo fixado pela empresa. Já o endividamento ficou em R$ 25 bilhões, 0,4% maior que os R$ 24,9 bilhões esperados.

A empresa ainda divulgou que a receita líquida de serviços, que não inclui a venda de aparelhos, ficou em R$ 27,5 bilhões. No terceiro trimestre, a Oi disse que a receita prevista com aparelhos poderia ser reduzida em até R$ 800 milhões. Assim, a receita total da empresa em 2012 pode ficar em R$ 28,2 bilhões, cerca de 2,5% abaixo dos R$ 28,9 bilhões projetados.

- Oito meses depois de Valim ter sido contratado, ele apresentou um plano ao conselho e teve carta branca para isso. Mas não entregou o resultado. Ele teve um fraco desempenho operacional, criando metas que não seriam alcançadas e, por pouco, o pagamento de dividendos (parcela dos lucros distribuída aos acionistas) não foi afetado - disse um executivo próximo ao comando da empresa.

Pela política de dividendos da empresa, para pagar os R$ 3 bilhões de dividendos prometidos por Valim, o endividamento da companhia teria que ser de até três vezes a sua geração de caixa. Pelo comunicado de ontem, a relação bateu na trave, ficando em 2,87 vezes.

Porém, segundo outro executivo do setor, o resultado abaixo do esperado não foi o motivo da saída de Valim. Acredita-se que pesou o fato de acionistas, como a PT, estarem insatisfeitos com a velocidade da implantação dos projetos, como a instalação de fibra óptica e de TV por assinatura no país, além do baixo crescimento em celular. Procurada, a PT não quis comentar.

- O nome de Valim, na verdade, nunca foi consenso entre os acionistas. Mas a decisão pela sua saída foi unânime, pois já vinha sendo amadurecida há alguns meses - afirmou uma das fontes, que não quis ser identificada.

Oi recebe crédito de quase R$ 10 bi do BNDES

Valim será substituído interinamente por José Mauro Carneiro da Cunha, que até então era presidente do conselho de administração da Oi, e indicado do BNDES, acionista da tele. Zé Mauro, como é conhecido, ficará no cargo por cerca de 60 dias, até que a Oi, que já contratou uma empresa de recrutamento de executivos, indique um novo nome para o cargo. Quando o presidente anterior da Oi, Luiz Eduardo Falco deixou a empresa, em 2011, Cunha também fez a transição, como prevê o estatuto da empresa. Cunha foi diretor da área financeira do BNDES entre 1991 e 2002.

A empresa ainda não tem um nome à vista para substituir definitivamente Valim, que já passou pela Net e pela Serasa Experian.

A Oi foi apelidada de "Supertele" após comprar a Brasil Telecom (BrT), em 2008, numa operação apoiada pelo governo, que visava a criar uma grande operadora de capital nacional e com atuação no exterior. A razão para a troca na direção executiva da Oi ainda não estaria muito clara para o governo, informaram fontes da área. Para alguns, existia incompatibilidade entre os acionistas da empresa. Para outros, o problema foi no planejamento estratégico, que não assegurou o cumprimento das metas de desempenho.

De acordo com um executivo do setor, um dos nomes cotados para assumir a Oi seria de Zeinal Bava, presidente da Portugal Telecom, que estaria sendo apoiado internamente pelos acionistas brasileiros. Mas há quem acredite que Bava não vá deixar o comando da tele portuguesa.

Apesar dos problemas operacionais e dos resultados abaixo do esperado, a Oi acabou de receber do BNDES o maior financiamento da história do setor. No início deste ano, o banco liberou R$ 5,4 bilhões à empresa para os investimentos que contemplam o plano entre 2012 e 2014. Em 2009, o banco já havia emprestado R$ 4,4 bilhões à companhia.

Dentro da Oi, Valim dividia opiniões. Alguns diretores consideram que o executivo tinha um perfil controlador, concentrando todas as decisões.

- Ele escutava, mas tinha uma opinião firme. Mas, por outro lado, era alguém que brigava pelas pessoas - afirmou a fonte.

Ontem, durante a tarde, a equipe de Relações com Investidores da Oi informava aos analistas que as metas seriam alcançadas.

- Eles tentaram acalmar o mercado, mas foi impossível. O resultado não veio bom, mas não se pode dizer que é motivo para demissão - disse um analista do setor.

As ações da Oi tiveram as maiores quedas da Bovespa ontem. As ações preferenciais (PNs, sem direito a voto) caíram 7,93%, enquanto os papéis ordinários (ON, com direito a voto) recuaram 6,64%. Em dois dias, a Oi perdeu R$ 1,6 bilhão em valor de mercado, segundo Rodolfo Amstalden, analista da Empiricus Research/Investmania. As ações ON da Oi perderam 8,35% de seu valor na semana. Já as PN, com maior liquidez, acumularam queda de 12,65%.

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo, fechou em queda de 0,34% aos 61.692 pontos. O dólar comercial subiu 0,04%, para R$ 2,043 na venda.